Você se lembra de alguma avó ou avô do passado elogiando os netos por estarem mais “gordinhos”, como se isso fosse sinal de saúde e vitalidade? Pois é. O mundo, definitivamente, mudou. Se no passado o aumento de peso em crianças era visto como algo positivo por grande parte da sociedade, hoje o fenômeno tem acendido o alerta de diferentes profissionais de saúde, sobretudo em razão das últimas estatísticas sobre obesidade infantil.
Segundo o mais recente Atlas Mundial da Obesidade, divulgado pela World Obesity Federation, cerca de 50% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos podem apresentar obesidade ou sobrepeso até 2035, revelando como os próximos 10 anos serão desafiadores para as famílias e todo o sistema de saúde, que precisarão se empenhar para reverter essa triste realidade, hoje presente na vida de pessoas do mundo inteiro.
O cenário, inclusive, fica ainda mais preocupante devido à grande presença de alimentos ultraprocessados na rotina alimentar dos pequenos. Segundo o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), realizado pelo Ministério da Saúde e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cerca de 25% das calorias consumidas por crianças menores de 5 anos no país vêm de alimentos ultraprocessados, que estão ligados a diversos problemas de saúde. Na faixa etária de 2 a 5 anos, esse percentual sobe para 30%. Além disso, metade das crianças não consome frutas diariamente, enquanto 3 em cada 5 ingerem açúcar todos os dias.

Esse panorama revela algo que muitos profissionais de saúde vêm apontando há tempos: a forma como os hábitos familiares interferem na maneira como nos relacionamos com a comida. “A rotina familiar influencia diretamente nas escolhas alimentares das crianças”, afirma o médico Dr. Cláudio Cola, Especialista em Clínica Médica e Pós-Graduado em Medicina Ortomolecular. “Para a falta de tempo na vida adulta, os alimentos ultraprocessados viram uma opção viável financeiramente e prática. Além da acessibilidade, possuem um marketing assertivo, com personagens de desenhos que cativam o interesse do público infantil. Entretanto, são os maiores responsáveis pelo aumento de peso”, disse o médico, lembrando que outro desafio é a falta do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, que está associado a uma introdução precoce dos industrializados na rotina alimentar da criança.
No dia 03 de junho, inclusive, diversas entidades de saúde realizaram ações educativas para celebrar o Dia de Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil. Afinal, o problema vai muito além do aumento de peso: diabetes, pressão alta, problemas cardíacos, ósseos e articulares estão entre as consequências da obesidade em crianças, o que torna necessário um tratamento multidisciplinar, envolvendo médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos, considerando também os impactos emocionais.
“A abordagem apropriada exige uma intervenção integrada de vários setores e é claro que a vida da família toda tem que mudar, motivo pelo qual o Ministério da Saúde recomenda a promoção de uma alimentação adequada e novos padrões na dieta, evitando alimentos ultraprocessados e oferecendo alimentos diferentes em sabor, formatos, texturas, preparações e combinações”, ressaltou Dr. Cláudio Cola. “Mas não são só as refeições que precisam mudar. Com apoio, incentivo e exemplo dos pais, as brincadeiras ao ar livre e os esportes devem substituir a exposição às telas para combater o sedentarismo, assim como a inclusão de hábitos como todos juntos sentados à mesa, compartilhando alimentos saudáveis e estimulando a confiança. Mas isso só será alcançado com a ajuda e o amparo de um acompanhamento multiprofissional regular e individual, valorizando a realidade de cada paciente, considerando sua saúde e seu contexto psicossocial”.