Um comportamento alimentar que envolve excessos, como comer demais numa festa, ingerir muitos doces, misturar muitos alimentos pesados, não caracteriza por si só uma compulsão. A compulsão alimentar envolve um certo impulso em direção à comida, que muitas das vezes começa por uma situação em que a pessoa está emocionalmente abalada (triste, nervosa, com raiva, por exemplo) e, ao comer, sente-se mais aliviada desse mal-estar. Mas só comer muito em determinadas situações não é um transtorno.

É o que afirma a psicóloga Elizabete Rangel. “Contudo, se isso aumenta de frequência e vem acompanhado de outros comportamentos em torno da comida, que vão se tornando mais complexos e ocupando mais a mente e a vida dessa pessoa em torno da comida, trazendo prejuízos sociais, emocionais e pessoais, já pode ser que esteja saindo de um comer excessivo para um comer transtornado, que é o meio do caminho para se tornar o Transtorno de Compulsão Alimentar, que é uma psicopatologia. A compulsão alimentar, antes de ser um Transtorno de Compulsão Alimentar, também pode aparecer como sintoma da Bulimia Nervosa, da Anorexia Nervosa, da Obesidade, da Depressão, dos quadros ansiosos, da impulsividade, dentre outros”.
Mas o que geralmente leva uma pessoa a desenvolver compulsão alimentar? “Não há uma causa específica, pois muitos fatores podem levar uma pessoa a desenvolver a compulsão alimentar, como, por exemplo, os hábitos alimentares da família e o histórico familiar, os fatores emocionais, a situação socioeconômica, eventos traumáticos, dentre outros. Contudo, é muito comum que o início da compulsão alimentar venha acompanhado de outras comorbidades, que em se tratando da mente podem ser: o transtorno de ansiedade, a depressão, os transtornos de personalidade, o uso de substâncias, dentre outras”, afirma a psicóloga. “Os sinais podem ser vários, tanto isolados, quanto combinados. Dentro dos casos clínicos mais frequentes, um comportamento alimentar sintomático seria quando a pessoa tem uma relação problemática com a alimentação, usando a comida para aliviar o estresse, por exemplo. Este comportamento já poderia ser uma sinalização de que algo não vai muito bem no sentido psíquico e emocional daquela pessoa. Outro ponto muito relevante seria o hábito de comer muito rápido e um grande volume de comida, pensar em comida o dia inteiro, comer qualquer coisa, mesmo sem ter fome etc. Em todos os quadros de Transtorno de Compulsão Alimentar, o mais importante é perceber que a pessoa não come orientada pelo prazer de comer, não reconhece mais os sinais de fome e que já está satisfeito, mas segue comendo sem ter controle sobre si mesma”, finaliza Elizabete.
Na próxima edição, vamos aprofundar mais sobre o tema.