Nos últimos anos, o medicamento tadalafila, originalmente desenvolvido para o tratamento da disfunção erétil, passou a ser consumido de forma cada vez mais indiscriminada, especialmente entre homens jovens sem qualquer indicação clínica. Segundo dados da Anvisa, as vendas de tadalafila no Brasil saltaram de 3,2 milhões de unidades em 2015 para 64,7 milhões em 2024 – um crescimento de quase 2.000% em apenas nove anos. O fenômeno ganhou força nas redes sociais e em academias, onde influencers e frequentadores pregam a substância como um “pré‑treino” capaz de aumentar irrigação sanguínea e desempenho físico. No entanto, não existem evidências científicas sólidas de que a tadalafila melhore força ou hipertrofia muscular – ao contrário, esse efeito “pump” parece reflexo de vasodilatação temporária e efeito placebo.

As consequências vão além da ineficácia no desempenho esportivo. O uso contínuo e sem controle pode mascarar causas reais de disfunção erétil, como alterações hormonais, ansiedade ou problemas vasculares, retardando diagnósticos importantes. Além disso, a prática sem acompanhamento médico eleva o risco de efeitos adversos comuns — dor de cabeça, tontura, palpitações, congestão nasal e rubor facial — e de interações perigosas, sobretudo com fármacos à base de nitratos, o que pode levar a quedas abruptas de pressão arterial.
É o que conta o médico e nutricionista Dr. Diego Motta. “O uso indiscriminado de tadalafila, medicamento amplamente utilizado para disfunção erétil, tem se tornado cada vez mais comum, especialmente entre homens jovens sem indicação clínica. Embora seja eficaz para melhorar o fluxo sanguíneo peniano e o desempenho sexual, seu uso sem acompanhamento médico pode mascarar causas reais de disfunção, como alterações hormonais, ansiedade ou problemas vasculares. Além disso, o uso frequente e sem controle pode causar efeitos colaterais como dor de cabeça, tontura, palpitações, congestão nasal e até dependência psicológica para manter o desempenho. A automedicação também pode ser perigosa para pessoas com problemas cardíacos ou que utilizam medicamentos à base de nitratos. Por isso, é fundamental que a tadalafila seja usada com orientação médica, após avaliação clínica adequada”.
Especialistas alertam que, embora a tadalafila não gere dependência química, há forte potencial de dependência psicológica: o usuário condiciona sua confiança ao remédio e passa a acreditar que só terá bom desempenho com ele. Esse ciclo pode agravar a ansiedade de performance e prejudicar ainda mais a saúde mental e sexual do indivíduo. Frente a esse cenário, entidades médicas e farmacêuticas reforçam a necessidade de campanhas de conscientização, exigência rigorosa de receita médica na venda do remédio e maior atuação do farmacêutico para orientar o paciente sobre indicações, contraindicações e riscos do tratamento. Somente com prática racional e acompanhamento profissional será possível conter o uso irresponsável e garantir a segurança dos homens que buscam na tadalafila uma solução para problemas que vão muito além do desempenho pontual.
