Confira a segunda parte da entrevista com a psicóloga Elizabete Rangel
Os principais transtornos alimentares são o Transtorno de Compulsão Alimentar, a Bulimia Nervosa e a Anorexia Nervosa. A diferença mais significativa entre eles está no comportamento em relação à comida. É o que afirma a psicóloga Elizabete Rangel.
“No caso do Transtorno de Compulsão Alimentar, há um descontrole sobre o comer e o excesso de alimentos, com um pensamento constante em torno da comida, organizando a vida em torno dos momentos de alimentação. Isso traz um grande sofrimento psíquico e emocional, pois a pessoa tende a evitar socializar, ciente de que, ao começar a comer, não consegue parar até que a comida acabe ou que ela se sinta mal. O diagnóstico, segundo os manuais de saúde, é caracterizado quando os episódios de compulsão alimentar aparecem com a frequência de 2 ou 3 vezes por semana, em um período de três meses seguidos”, disse.
Já a Anorexia Nervosa, segundo ela, tem como principal característica a restrição e/ou evitação em comer, porque o paciente se enxerga com um peso e uma imagem diferente daquela que todos os outros percebem. “Ele se vê com um corpo gordo e busca na restrição ou evitação dos alimentos uma forma de não ganhar peso. E, com isso, a pessoa perde muito peso, se esconde sob roupas largas, evita situações sociais, havendo, inclusive, um afastamento da vida sexual e amorosa. O problema muitas das vezes começa sob o disfarce da preocupação com a saúde e a pessoa passa a fazer cortes de alguns grupos alimentares, como do glúten, lactose, açúcares, frutas, etc., como estratégia para manter a sua magreza”.
E, por último, há a Bulimia Nervosa, que envolve um comer em excesso, com estratégias de esvaziamento, como a purgação através dos laxantes, chás diuréticos, provocação de vômitos e, também, através de atividades físicas em excesso para eliminar as calorias do que consumiu, como correr demais e malhar demais. “Os pacientes que sofrem com bulimia geralmente demoram a buscar ajuda, porque se camuflam na sociedade, seja usando o artifício de cuidados à saúde, seja por vergonha e medo do julgamento dos outros, desenvolvendo assim maneiras de evitar a exposição do problema. Vale dizer que, estatisticamente, há mais casos de bulimia e anorexia entre mulheres, sobretudo entre adolescentes de 12 anos em diante até jovens adultas, devido à pressão social pela beleza, estética e magreza. E, nesse sentido, as redes sociais têm sido um elemento estimulador para o início dessas psicopatologias que, se não tratadas adequadamente e precocemente, podem levar até a morte”.
A psicóloga prossegue falando sobre o tratamento. “O tratamento para a compulsão alimentar requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo psicólogos, nutricionistas e, em alguns casos, psiquiatras. Não existe uma fórmula única para o tratamento, sendo essencial um acompanhamento personalizado, que considere a saúde física e mental do paciente desde o início de sua vida. O tratamento eficaz é aquele que se adapta às necessidades individuais, rejeitando soluções generalizadas encontradas na internet. Amigos e familiares desempenham um papel crucial no apoio a quem sofre de compulsão alimentar. Compreender que o descontrole alimentar não é uma questão de falta de força de vontade, mas uma patologia, é o primeiro passo. É necessário oferecer apoio emocional, sem normalizar comportamentos prejudiciais, e encorajar a busca por ajuda profissional para evitar que o transtorno evolua e cause problemas de saúde mais graves, como a obesidade mórbida”.