Obesidade infantil: como lidar?

Obesidade
Dr. Cláudio Cola, Especialista em Clínica Médica, e a acadêmica de Nutrição Caroline de Oliveira Cabral Crispim

Ter um filho acima do peso é sempre uma grande preocupação para as famílias. Mas nem poderia ser de outra forma. Basta lembrar que a obesidade é hoje reconhecida como a maior epidemia da humanidade, atingindo cerca de 1 bilhão de pessoas, sendo as crianças cerca de 30% desse quantitativo. O cenário, inclusive, se repete no Brasil, onde o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan-WEB) e o Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância – Fiocruz/Unifase) relatam um aumento de 6,08% no número de crianças com excesso de peso nos últimos anos.

ObesidadePara abordar o assunto, o Mania de Saúde ouviu o médico Dr. Cláudio Cola, Especialista em Clínica Médica e Pós-Graduado em Medicina Ortomolecular, e a acadêmica Caroline de Oliveira Cabral Crispim, do 7º período de Nutrição da Universidade Salgado de Oliveira e estagiária do Hospital dos Plantadores de Cana. Atuando em conjunto no atendimento desses pacientes, eles revelam como o excesso de peso vai além do indivíduo, gerando implicações mais abrangentes na sociedade.
“A obesidade é uma doença, não é um problema familiar e sim da humanidade, já que não escolhe país, região, língua, cor, sexo, faixa etária e, atualmente, nem classe econômica, havendo estudos recentes que comprovam que 30% dos países mais pobres hoje convivem com a ambígua realidade chamada pelos cientistas de ‘sistemas alimentares modernos’, onde a título de acabar com a fome ocorre a superoferta de alimentos processados e ultraprocessados, gerando a triste realidade nomeada de ‘dupla carga de desnutrição’, já que tanto a fome quanto a obesidade geram desnutridos”, ressaltam.

O estilo de vida imposto pela sociedade moderna, segundo eles, acaba problematizando ainda mais o enfrentamento à doença. “Além dos fatores genéticos e ambientais, que incluem a mudança da dieta, quer pela xenobiose, que é a intoxicação do meio ambiente, quanto pelos interesses econômicos com a desenfreada oferta de alimentos processados e ultraprocessados, aquele que mais influencia hoje é o fator sociocultural, caracterizado pela rotina corrida dos familiares, resultando em uma impossibilidade de controlar a alimentação da criança, de realizar boas escolhas alimentares e de buscar um acompanhamento profissional. Esse contexto favorece um ambiente de conflito familiar, com pais cansados, sem recursos e sem condições de servir de exemplo para convencer seus filhos a mudar a dieta, praticar atividades físicas e reconstruir uma nova dinâmica familiar de estilo de vida”, explicam.

A obesidade infantil, como alertam os profissionais, é uma doença que atua em vários contextos e é resultado de fatores genéticos e comportamentais. Dessa forma, em cada contexto há possibilidade de dificuldades e erros que podem ser cometidos e agravar o quadro de excesso de peso. “A rotina familiar influencia diretamente nas escolhas alimentares das crianças. Para a falta de tempo presente na vida adulta, os alimentos ultraprocessados se apresentam como opção viável financeiramente e prática. Além da acessibilidade, possuem um marketing assertivo com propagandas, cores e personagens de desenhos que cativam o interesse do público infantil. Entretanto, são os maiores responsáveis pelo aumento de peso. Outro desafio é a falta do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, que é associado a uma introdução precoce dos industrializados na rotina alimentar da criança”, acrescentaram.

Qual seria, então, a forma correta de lidar com a obesidade infantil? “A abordagem apropriada exige uma intervenção integrada de vários setores e é claro que a vida da família toda tem que mudar, motivo pelo qual o Ministério da Saúde recomenda a promoção de uma alimentação adequada e novos padrões na dieta, evitando alimentos ultraprocessados e oferecendo alimentos diferentes em sabor, formatos, texturas, preparações e combinações. Mas não são só as refeições que precisam ser mudadas. Com apoio, incentivo e exemplo dos pais, as brincadeiras ao ar livre e os esportes devem substituir a exposição às telas para combater o sedentarismo, assim como a inclusão de hábitos como todos juntos sentados à mesa no final do dia, compartilhando alimentos saudáveis e suas dificuldades e vitórias diárias, para criar cumplicidade e confiança, reduzindo ansiedades. Mas isso só será alcançado com a ajuda e o amparo de um acompanhamento multiprofissional regular e individual, valorizando a realidade de cada paciente, considerando sua saúde e seu contexto psicossocial”.