Como vivenciar o luto?

A psicóloga e coach Aline Horta
Durante nossas vidas, passamos por diversas situações que nos fazem refletir a respeito de quem somos, qual a nossa missão, nosso propósito e o que queremos deixar como legado. Entretanto, poucas foram as vezes em que nos perguntaram o que verdadeiramente faríamos se tivéssemos apenas poucos minutos de vida. Estamos passando por um momento em que a pandemia do Covid-19 trouxe perdas abruptas e de difícil superação. Em meio a essas incertezas, o Mania de Saúde ouviu a psicóloga e coach Aline Horta, que nos traz uma contribuição de como superar o luto e a importância de estar aberto a ajuda de profissionais de psicologia ou até mesmo psiquiatria, para poder apoiar as pessoas que sofrem a partida de seus familiares e amigos. “Atualmente, é desafiador o enfrentamento do luto porque nem sempre a despedida é possível para que se possa concretizar aquela perda. O luto é um processo psicológico necessário, permitindo ao enlutado vivenciar a dor emocional e adaptar-se gradualmente a um novo contexto de vida: o da ausência e saudade. É indispensável o apoio, mas também a compreensão de pessoas próximas. É poder permitir que a pessoa sinta a dor, sem querer tirá-la da tristeza porque só leva ao isolamento. O enlutado pode reagir de várias formas, como se retrair, fingir que está bem diante de outras pessoas ou não conseguir ouvir as tentativas de tirá-lo da tristeza. É muito importante não se fechar unicamente nas lembranças da dor e da perda. Podemos sentir e vivenciar o luto em uma fase compreendida como normal por até seis meses, passando esse período, a situação já merece um olhar mais cuidadoso com o enlutado”. Aline ainda aponta os cinco estágios que vivenciamos para elaborar o luto. “O primeiro estágio é a negação e o isolamento. É o primeiro sentimento diante da notícia. A aceitação parcial é a fase logo após a negação, quando não se utiliza da negação por muito tempo. É um estado temporário do qual ele se recupera, gradativamente, à medida que vai se acostumando com a realidade, até começar a reagir. O segundo estágio: raiva. Surge quando não é mais possível negar o fato e há o sentimento de revolta, de inveja e de ressentimento. Para a família e os amigos, é uma fase difícil de lidar, pois suas atitudes não têm justificativas plausíveis. No terceiro estágio temos a barganha, onde o paciente começa a ter esperanças. No quarto tem a depressão. É o estágio de sentimentos de tristeza e debilitação acompanhador de solidão e saudade. Essa fase requer muita conversa e intervenções ativas por parte dos que estão à sua volta, de modo a evitar uma depressão silenciosa. Isso porque só os que conseguem superar as angústias e as ansiedades são capazes de alcançar o próximo estágio, que é a aceitação. Finalmente, o quinto estágio, a aceitação. Após externar sentimentos e angústias, inveja pelos vivos e sadios. O enlutado que já conseguiu vencer os estágios anteriores chega, agora, ao momento em que a saudade se torna mais sossegada, se sente mais em paz e começa a ter condições de se organizar na vida. É preciso, no entanto, não se fechar unicamente nas lembranças da dor e da perda, embora tenha perdido interesse por muita coisa, aquilo e aqueles que fazem bem, as atividades que fazem bem. Pode ser uma caminhada, cozinhar, alguma atividade que desperte o prazer de viver a vida com sentido. No entanto, saber perder é a arte de quem conseguiu viver plenamente o que ganhou um dia. Aceitar a perda tem uma função vital na nossa vida que continua”, finaliza a psicóloga.