Exaustão feminina não é normal: é alarme

Dra. Gabriela Dal Molin - Exaustão feminina
A médica psiquiatra Dra. Gabriela Dal Molin

Você certamente já deve ter ouvido falar no quanto a saúde mental se tornou uma das grandes preocupações do mundo moderno. Mas o que não fica aparente, muitas vezes, é a forma como a ansiedade e a depressão acabam tendo uma incidência maior entre o público feminino. Segundo uma pesquisa feita pela organização Think Olga, por exemplo, 7 em cada 10 diagnósticos de ansiedade e depressão no Brasil são de mulheres. Já o Mapeamento de Saúde feito pela Ipsos em 2023 revelou que elas concentravam a maioria dos diagnósticos de transtornos como ansiedade (64%), depressão (67%), TDAH (65%), TOC (61%) e burnout (75%).

Mas engana-se quem pensa que a explicação para esse fenômeno se resume a questões meramente demográficas. Entre os motivos apontados para o alto índice de diagnósticos em mulheres está a sobrecarga vivida por elas diante de tantas demandas em casa e no trabalho – incluindo a disparidade salarial, que impacta o planejamento financeiro e gera inúmeras dificuldades no dia a dia. Isso mostra que as mulheres estão adoecendo mais e precisam de maior atenção quando o assunto é saúde mental.

“As mulheres têm sofrido bastante e por diversas questões que, no fundo, são óbvias”, afirma a médica psiquiatra Dra. Gabriela Dal Molin. “A gente está sempre desempenhando uma série de papéis diferentes, seja no mercado de trabalho, seja na vida pessoal, cuidando da casa, da maternidade, do matrimônio, das finanças, mas nem sempre amparadas por alguma rede de apoio que dê o suporte necessário para desempenhar tantas funções. Isso sobrecarrega o público feminino com múltiplas responsabilidades, impactando diretamente a saúde mental”, disse.

Exaustão femininaAlém da depressão e da ansiedade, outros transtornos acabam surgindo nesse contexto, incluindo burnout (exaustão extrema), insônia crônica, déficit de atenção, transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), bem como questões alimentares, a exemplo de bulimia, anorexia e compulsão. O problema é que nem sempre as mulheres conseguem identificar esses transtornos de forma precoce, demorando assim a procurar ajuda. “Um dos maiores erros quando se fala em transtorno mental é negar o problema. As pessoas ainda têm muita resistência de ir ao psiquiatra. Por vezes, acabam buscando vias alternativas, que não são as melhores estratégias e postergam muito o tratamento adequado”, ressalta Dra. Gabriela.

Qual a melhor abordagem?

Com vasta experiência na psiquiatria, tendo muitas pacientes com transtornos dessa natureza, Dra. Gabriela comenta o que precisa ser feito diante dos primeiros sintomas. “A abordagem recomendada é procurar bons profissionais, tanto no âmbito da psicoterapia, quanto para a avaliação psiquiátrica, que é de extrema importância nesse contexto. Hoje em dia, vemos muitas ofertas com soluções rápidas e fáceis, mas elas nem sempre vão ser as mais duradouras. Por isso, é fundamental buscar um médico especializado, a fim de que haja um protocolo de tratamento adequado, muitas vezes envolvendo medicações específicas e psicoterapia, frisando também a necessidade da prática regular de exercícios, já que a atividade física é uma importante aliada no tratamento da depressão e da ansiedade”.