Um novo olhar sobre saúde mental

Um novo olhar sobre saúde mentalVocê já deve ter ouvido que hoje em dia “tudo é TEA ou TDAH”. Porém é sempre importante observar a realidade dos fatos. Afinal, para muitas pessoas, esses transtornos parecem modismo, mas a realidade é bem mais séria do que parece, a ponto de gerar sofrimento a inúmeros adultos. Ciente disso, a médica psiquiatra Dra. Lana Maria Pereira criou um curso para pessoas com TDAH e uma Mentoria para empresários e profissionais que convivem com o transtorno, além de outras palestras sobre qualidade de vida e saúde mental.

No dia 31 de maio, por exemplo, ela será uma das palestrantes do III Congresso Desenvolva Mais no TEA, na UENF, que está reunindo diferentes profissionais para levar informação de qualidade ao público em geral. Em entrevista ao Mania de Saúde, Dra. Lana falou um pouco sobre essa nova vertente de sua carreira, além de revelar como os diagnósticos de transtornos como TEA e TDAH precisam ser encarados com responsabilidade nos dias de hoje.

Mania de Saúde – O número de diagnósticos de TDAH, inclusive em adultos, é preocupante?

Dra. Lana Maria – Por anos o TDAH foi associado à infância. Dizia-se que, após os 25 anos, os sintomas acabavam, o que já se sabe não ser verdade, pois muitos adultos passaram a vida tendo sintomas como desatenção, impulsividade e dificuldade de organização sem imaginar que poderiam ter um transtorno neurobiológico. O que existe hoje não é uma epidemia de diagnósticos, mas uma reparação histórica. Pessoas que sofreram durante anos finalmente têm nome para o que sentem. Isso não significa que todos os diagnósticos estejam corretos. Mas o aumento de casos em adultos pode estar relacionado a um maior acesso à informação, menos preconceito e uma busca legítima por qualidade de vida. O desafio agora é garantir que esses diagnósticos sejam feitos com critério e não por modismo. TDAH é sério, impacta a vida funcional do indivíduo e não deve ser banalizado — mas também não pode ser negligenciado.

Mania de Saúde – Como você analisa esse constante uso de medicações para TDAH?

Dra. Lana Maria – A medicação, no contexto certo, é uma ferramenta valiosa. O problema está no uso sem avaliação clínica adequada. Além disso, o TDAH não se trata apenas com comprimidos. É preciso compreender a história daquele paciente. A psiquiatria deve agir quando há sofrimento e prejuízo funcional — e agir com consciência, explicando as possibilidades terapêuticas e, quando necessário, combinando psicoterapia, estratégias de organização e mudanças no estilo de vida. Não é sobre medicar o comportamento, é sobre cuidar da mente como um todo. Por isso, criei um curso para ajudar pessoas com TDAH a melhorarem a produtividade, além de uma mentoria voltada a empresários e profissionais que buscam alta performance, mas enfrentam dificuldades para se manter produtivos.

Mania de Saúde – Quais os riscos por trás de diagnósticos apressados de TEA?

Dra. Lana Maria – Tenho visto adultos se autodiagnosticando com TEA a partir de vídeos nas redes sociais, o que é um alerta. O transtorno do espectro autista envolve uma complexidade que não pode ser reduzida a um checklist de comportamentos. Isso pode gerar angústia, rótulos desnecessários e até impedir avanços terapêuticos. A psiquiatria exerce um papel fundamental ao investigar a história, as nuances da personalidade e as comorbidades. TEA e TDAH podem coexistir, mas também se confundem. É preciso fazer o caminho inverso do rótulo: escutar antes de diagnosticar. E mais: acolher, orientar e oferecer caminhos reais de desenvolvimento.

Mania de Saúde – Como tem sido a experiência de palestrante? Quais são os temas?

Dra. Lana Maria – Na palestra “Nem tudo que reluz é ouro, mas todo ouro reluz”, abordo o risco dos diagnósticos superficiais, da medicalização exagerada e da confusão entre transtornos que exigem um olhar mais refinado. O objetivo é provocar reflexão, mas também trazer conteúdo técnico, experiência clínica e exemplos do que vivencio como psiquiatra. Já na palestra “Saúde Mental e Inteligência Emocional no Trabalho”, abordo os impactos silenciosos do adoecimento emocional no ambiente profissional, os riscos psicossociais exigidos pela NR-1 e estratégias baseadas em inteligência emocional para promover uma alta performance sustentável. De forma clara, acessível e impactante, proponho uma mudança de cultura nas empresas: menos adoecimento, mais consciência, mais saúde emocional. A palestra tem sido bem recebida por líderes, profissionais da saúde, gestores de RH, empresários e pode ser adaptada conforme o perfil da instituição. Essa jornada como palestrante tem sido transformadora. Tenho reencontrado minha voz fora do consultório — no palco, nas mentorias, nos encontros com outros profissionais. Há muita sede por esse tipo de conteúdo. E estou disponível para contratações de instituições, empresas e escolas que queiram discutir saúde mental com seriedade. Acredito muito no poder da educação e na força do diálogo entre áreas. Quando nos unimos para falar de saúde mental de forma ética e acessível, todo mundo ganha.