(*) Sthevo Damaceno é jornalista e
editor do jornal Mania de Saúde.
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Sthevo Damaceno

O mundo é mais forte com elas

Poucos anos atrás, encontrava-me no saguão de um prédio no centro da cidade, quando fui tomado por aqueles movimentos proustianos, memorialísticos – e de repente me vejo espelhado em uma horda de crianças de uns 10 anos de idade, magras e raquíticas, que chegavam ao edifício de mãos dadas com suas mães, aguardando uma consulta com um pediatra ou outro especialista em saúde infantil.

Cenas dessa natureza sempre fizeram parte de minha infância, não apenas por conta de um corpo franzino e de uma saúde frágil, mas, especialmente, por ter sido aquele “moleque de rua” típico, exposto a diversos acidentes e adoecimentos, talvez pela liberdade excessiva daqueles tempos analógicos.

Foi curioso, portanto, ver aquelas mulheres ali, três décadas depois, apresentando a mesma abnegação de minha mãe, que era capaz de deixar todas as suas obrigações para enfrentar horas de estrada (éramos de um distrito de interior), levando um tempo enorme até chegar à cidade para, no final, ainda enfrentar filas intermináveis nos consultórios médicos e, só à noite, após essa longa odisseia, retornar ao lar.

Tudo isso, convém dizer, envolvia uma típica mulher de classe média baixa, na virada dos anos 1980 para os 1990, aquela época tão politicamente incorreta, em que a cultura dominante entre os homens de família – em que pesem as exceções – era apenas garantir o sustento do lar, algo bem diferente do que ocorre nos dias de hoje, quando ser pai adquiriu um significado muito mais profundo e enriquecedor para os homens em geral.
Mas eis que um som eletrônico subitamente toma os alto-falantes do recinto e, de repente, toda aquela nuvem proustiana se desfaz, fazendo-me voltar à realidade e ver o porteiro do prédio ali, a me chamar, sob o olhar daquelas inúmeras mães, pela primeira vez dando-se conta de um estranho a observá-las. Mal sabiam elas que, naquele instante, elas foram uma única mãe, como a minha também ao longo da vida – no fundo, cientes de que só o amor incondicional que tanto carregam seria capaz de suportar o peso da cruz, minimizando todo o sofrimento por conta do seu maior bem – ou do seu bem maior.

Essa crônica, já antiga, me veio à mente agora, ao prepararmos esta edição voltada para o Dia Internacional das Mulheres. Afinal, naquele momento, enquanto observava aquelas mães, rememorei, como nunca, o olhar espantado do menino que fui, sem jamais compreender o mistério que torna as mulheres tão fortes e abnegadas.

Mais do que a relação materna, contudo, o que saltava aos olhos era essa força silenciosa que só as mulheres possuem – sejam elas mães ou não –, capazes de transformar qualquer desafio em resiliência e qualquer sacrifício em dignidade.

Vinicius de Moraes estava certo ao eleger a mulher como o maior de seus temas, ciente de que era ela, e apenas ela, “a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável”.