Poucos temas vêm chamando tanto a atenção quanto o uso de Inteligência Artificial (IA). Enquanto muitas pessoas temem o avanço desse tipo de tecnologia, outras sentem grande entusiasmo em relação à IA. Nesse contexto, surge a pergunta: devemos temê-la ou utilizá-la? Para dar essa resposta, o Mania de Saúde entrevistou o Dr. Maurício José Viana Amorim. Com doutorado em Informática na Educação (PPGIE/UFRGS) e mestrado em Sistemas e Computação (IME/RJ), sendo um dos coordenadores do Bacharelado em Sistemas de Informação do Instituto Federal Fluminense (IFF), ele tem vasta experiência na área tecnológica e explica o impacto da IA na vida dos usuários – e no próprio âmbito educacional. Confira!
Mania de Saúde – Você tem uma visão positiva ou negativa em relação ao uso da IA?
Dr. Maurício Amorim – Minha visão sobre o uso de IA é predominantemente positiva, mas reconheço que há desafios e preocupações que precisam ser cuidadosamente considerados e gerenciados. Entre os aspectos positivos, podemos citar a eficiência e a produtividade. Eu mesmo utilizo o ChatGPT no auxílio à programação e ele me traz automaticamente partes de código como sugestão, que aceito e altero conforme minha necessidade. Minha produtividade subiu em 400% com o auxílio desta ferramenta. Também podemos destacar os avanços na Saúde, pois a IA auxilia com diagnósticos mais precisos, tratamento personalizado e na pesquisa de novos medicamentos. Outro destaque é a personalização. A capacidade da IA em analisar grandes volumes de dados permite a oferta de conteúdos (produtos, mídias sociais) mais personalizados, trazendo uma experiência mais satisfatória para os consumidores.
Mesmo assim, existem muitas preocupações, principalmente na utilização das IAs generativas, que criam conteúdos novos a partir de mídias e do contexto solicitado pelo usuário. Elas podem ser utilizadas para a criação das chamadas “Fake News”. Meu sobrinho, por exemplo, testou uma IA Generativa, com a qual colocou a minha sogra, uma idosa de 80 anos, para dançar funk e espalhou a brincadeira no grupo da família. Outras preocupações que desafiam a Ética no uso das IAs referem-se a questões de privacidade e segurança, desemprego, dependência tecnológica e a tomada de decisão autônoma. Existe todo um novo mundo onde esta questão deve ser pautada, estudada e legislada, criando mecanismos baseados na ética, que permitam conviver com os avanços a ela atribuídos.
Mania de Saúde – Quais são os desafios que a IA enfrenta no contexto educacional?
Dr. Maurício Amorim – O uso das IAs no ambiente educacional reflete as mesmas preocupações que ela traz no macroambiente da sociedade. No primeiro momento, vejo os professores preocupados em impedir que as IAs deem cola para os alunos. Esta preocupação já existia com a popularização das calculadoras e é hoje refletida não só na matemática, mas em todas as disciplinas e conteúdos existentes. Os alunos, através dos celulares, têm acesso a ferramentas de IA que podem facilmente responder a tarefa solicitada pelo educador. No meu caso, que leciono no nível superior e para turmas de períodos mais avançados, a IA é uma aliada. Porém é necessário que o estudante entenda o conceito a ser aplicado. Se o estudante não souber o conceito, não conseguirá solicitar que a IA forneça a solução.
Ainda assim, existem outras preocupações, tais como: formação de educadores e adaptação de conteúdos, custo e sustentabilidade, acessibilidade e equidade. Percebe-se uma adaptação mais eficaz das escolas particulares a essas novas ferramentas, onde também se incluem a Lógica de Programação e a Robótica.
Mania de Saúde – Você citou vantagens e desvantagens do uso das IAs. Mas você acha que vale o risco?
Dr. Maurício Amorim – Embora haja desafios a serem enfrentados, acredito que os benefícios potenciais da IA superam os riscos, desde que abordemos esses desafios de maneira proativa e responsável. A regulamentação adequada, a educação sobre o uso ético da tecnologia e o foco na criação de um futuro em que a IA complemente as capacidades humanas são fundamentais para garantir que a IA tenha um impacto positivo na sociedade.