A internet está aí para facilitar a vida de todo mundo. Mas, sem o devido cuidado, ela pode se transformar em uma verdadeira dor de cabeça. Vide o caso, por exemplo, daquelas pessoas que estão ansiosas para ter um animalzinho de estimação e recorrem ao comércio eletrônico, onde sobram ofertas de cachorros das mais variadas raças. Mas como o interessado pode filtrar as informações disponíveis e adquirir o cãozinho com segurança? Para responder a essa pergunta, ouvimos a médica veterinária Dra. Lina Goulart, da Procamp, que deu dicas importantes para quem procura um bichinho por esses meios. Confira!
Mania de Saúde – Como a Sra. vê esse comércio de cães pela internet? Acha viável ou não? Quais fatores o interessado deve observar antes de adquirir o cãozinho?
Dra. Lina Goulart – A internet pode ser um grande facilitador ou um complicador dependendo de como for usada. Na minha opinião, o comércio de cães pela internet é, sim, viável, desde que o futuro tutor esteja devidamente preparado. Ao adquirir um novo animal, é preciso estudar sobre o comportamento da espécie e as necessidades da raça para que, depois, seja mais fácil observar se o provável vendedor segue os cuidados esperados. O pedigree, por exemplo, é uma forma de garantir que o animal é um exemplar legítimo da raça, assim como os seus pais, visto que, para um criador obtê-lo, é preciso estar registrado junto a algum Kennel Club e ter o atestado de um médico veterinário de que as informações sobre os pais e os filhotes são legítimas. Hoje em dia já existem os testes genéticos capazes de indicar se o filhote tem ou não propensão a determinadas doenças. É um fator que pode garantir um filhote mais saudável, mas que vai refletir no preço ao comprá-lo. É preciso, também, refletir se a família está preparada para recepcionar um novo integrante. Comprar um filhote não é igual comprar um sapato, uma bolsa ou qualquer outro objeto. Um filhote é um ser senciente, que tem necessidades específicas e espera-se que os tutores proporcionem um ambiente adequado para que ele exerça o seu comportamento natural.
Mania de Saúde – Na hora de adquirir, o que deve ser observado?
Dra. Lina Goulart – Se o criador conhece as necessidades da raça, se cria há muito tempo, se tem como mostrar os pais, se esses estão devidamente vacinados e com quais vacinas, qual tipo de ração come e com quanto tempo esse filhote será desmamado. São pequenos detalhes que podem indicar o cuidado que aquele criador tem com os seus animais. Filhotes de cães em geral só devem ser separados da mãe aos 45 dias de vida, mas algumas raças, como Shih Tzu, demoram a se desenvolver e precisam ficar ainda mais tempo sob os cuidados maternos. Quando separados da mãe antes de estar preparados, têm mais propensão a apresentar problemas comportamentais e imunológicos, que podem se manifestar de diversas formas, sendo a coprofagia o exemplo mais comum. Se os criadores entregam animais muito novinhos, com 20, 30 dias, ou com mais de seis meses, deve soar o sinal de alerta. Por que tão novos ou por que tão mais velhos?
Outro ponto de atenção é o preço. Um animal com valor muito abaixo do mercado deve sempre levantar desconfiança. Devemos ter em mente que uma criação ética é custosa e esse custo vai ser traduzido em investimento naquele filhote. Se você escolher comprar um filhote de qualidade, de um criador que respeita, cuida e se importa com os animais, prepare-se para pagar um valor compatível com tudo isso. Não adianta querer comprar um filhote barato (é preciso entender que, muitas vezes, o que pode não ser barato para nós, é barato em relação ao quanto aquele animal geralmente custaria), que tomou vermífugo e vacina duvidosos, e depois querer culpar a internet pelos problemas que por ventura ocorram. É comum encontrarmos tutores despreparados, que não estudaram, que adquiriram um animal porque achavam bonitinho e porque estava com um preço acessível, desesperados e revoltados assim que o animal apresenta o primeiro probleminha. Querem culpar o criador, o veterinário, a internet e até Deus pelo problema do seu bichinho, sem entender que, se tivessem pensado um pouquinho, possivelmente perceberiam que não estavam minimamente preparados para ter um cãozinho em casa, pois esse vai dar trabalho como qualquer outro ser vivo.
Mania de Saúde – Como proceder depois de comprar o animalzinho?
Dra. Lina Goulart – Se você estudou, conversou com a sua família, refletiu, decidiu adquirir um cãozinho e encontrou um criador com quem se identificou, que ótimo! Agora, escolha um médico veterinário para acompanhá-lo. Assim como escolhemos um pediatra, é preciso escolher um médico veterinário e ter em mente que a relação de vocês deve se basear no apoio e na confiança. Ele irá ajudá-lo a planejar o calendário vacinal completo e conhecerá seu filhote desde o início da vida. O calendário vacinal adequado pode variar de acordo com as necessidades do filhote e das possibilidades dos tutores, mas consiste, basicamente, em: três ou quatro doses das vacinas V8 ou V10 (dependendo da que você escolher e de quando iniciou a vacinação) até os quatro meses de idade; após os 120 dias, a vacina anti-rábica e a vacina contra tosse dos canis e os antiparasitários injetáveis (que também chamamos de vacinas por convenção) contra giárdia, filaria e leishmania também passarão a ser necessárias. Antiparasitários (os famosos vermífugos ou vermicidas) deverão ser feitos com frequência, de acordo com a orientação do seu médico veterinário. O controle de ectoparasitos (pulgas e carrapatos, principalmente, mas também sarnas e piolhos) deve ser frequente, pois, além de causar as infestações indesejáveis (que deixam seu amigo louco de se coçar) também são capazes de transmitir doenças. Ração de boa qualidade dentro das necessidades da idade e das características físicas: é muito importante saber porque você está dando a ração e o que esperar dela. Hoje em dia, alguns tutores imaginam que dar grãos cada vez mais pequenos e macios, assim como os petiscos, seja uma vantagem, esquecendo do papel nutricional e funcional dos alimentos.