A jornada dos jovens médicos

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O médico e professor de medicina Dr. Cláudio Cola

O caminho até o jaleco branco nunca foi simples, mas, para a nova geração de médicos, ele se tornou ainda mais árduo. O perfil do egresso em Medicina mudou: muitos já chegam ao diploma com mais idade, responsabilidades familiares, dívidas de financiamento e a pressão da prova de residência como próximo obstáculo. Em meio a tantas exigências e à competição acirrada, surge um desafio silencioso — manter viva a empatia. Afinal, como lembra o Dr. Cláudio Cola, médico e professor de medicina, a rotina desgastante e o peso das próprias incertezas podem facilmente abalar a capacidade de se colocar no lugar do outro, exatamente quando o paciente mais precisa ser acolhido.

jovens médicosHoje, formar um médico é também preservá-lo: em meio a contas e provas, o maior teste é não perder a capacidade de acolher. “Com o tempo, o perfil do egresso do curso de Medicina mudou bastante: se antes eram muitos jovens, hoje muitos já têm mais idade, família constituída e se formaram pelo sistema de reingresso de outros cursos; outro aspecto que mudou é que, hoje, a grande maioria já sai do curso com um financiamento a ser quitado, além de ter pela frente um outro estreito gargalo para o avanço profissional, que é a prova de residência. São dificuldades intensas que, associadas àquela insegurança natural que dá um frio na barriga de pensar que ‘agora é pra valer’, com certeza, tiram noites de sono e trazem alguns momentos de apreensão. Nesse contexto, de relacionamentos superficiais, níveis elevadíssimos de exigência de resultados, concorrência acirrada, quando até a inteligência se diz artificial, com certeza, o maior desafio para o médico recém-formado é não perder de vista a empatia”, afirma Dr. Cláudio, que prossegue abordando outros aspectos importantes da formação médica. “Conhecida como a habilidade de compreender e partilhar os sentimentos de outrem, exercer a profissão com Empatia é cada vez mais desafiador, porque é muito difícil se colocar no lugar do outro vivendo uma rotina desgastante, de embotamento emocional e se manter distante de preconceitos e julgamentos, quando você mesmo tem tantos problemas que às vezes não consegue diferenciá-los se são seus ou de seus pacientes. Sem dúvida nenhuma, a cada dia é mais complexo se manter atualizado em relação a terapias e procedimentos, e ao mesmo tempo não trazer, para a relação médico-paciente, suas ansiedades e até decepções. Vai ser sempre necessário manter o foco em atitudes como desenvolver um autoconhecimento eficaz, identificando seus limites e estabelecendo prioridades defensivas para separar tempo para o diálogo, descanso e lazer, aproximando-se daquilo que é fundamental para cuidar do próximo, que é lembrar de cuidar de si mesmo. Isso porque, sem qualidade de vida, a batalha contra a morte é desleal”.