Por que meu filho adoece tanto?

Por que meu filho adoece tanto - Dr. Charbell Miguel Haddad Kur
O médico pediatra e infectologista
Dr. Charbell Miguel Haddad Kur

Nada preocupa mais uma mãe do que ver o filho adoecendo, não é mesmo? Imagine, então, aquelas mães de primeira viagem, que estão cuidando do bebê ainda pequeno em casa, mas, de repente, começam a vivenciar uma infecção atrás da outra, tendo que lidar com emergências, idas ao pediatra e, claro, muitos remédios. Além de todo o estresse comum a esse momento, fica também a preocupação com o futuro dessa criança, já que os pais começam a se perguntar como será a imunidade dela ao longo do tempo. A pergunta que paira sobre eles, então, é apenas uma: por que meu filho adoece tanto?

Quem nos traz a resposta é o médico pediatra e infectologista Dr. Charbell Miguel Haddad Kury. “É muito comum que aconteçam mais doenças infecciosas nos primeiros anos de vida e existem algumas teorias para explicar o fenômeno. A primeira delas é a imaturidade do sistema imunológico, que ainda está passando pelo processo de transição dos anticorpos maternos para os anticorpos naturais da criança. Outra teoria se refere à exposição precoce a agentes infecciosos, principalmente quando a criança começa a frequentar uma creche muito cedo, com seis ou sete meses, que é justamente o período de transição de anticorpos. Ela pode acabar ficando exposta a diversos vírus e bactérias em meio a esse processo natural de amadurecimento do sistema imune, gerando assim mais adoecimento”, diz Dr. Charbell.

Por que meu filho adoece tantoEstatisticamente, segundo ele, uma criança pode ter de 6 a 8 infecções por ano. Se estiver indo para a escola, porém, o número aumenta: são cerca de 10 a 12 infecções. Caso tenha um irmãozinho pequeno, menor de 5 anos de idade, a tendência é ter até 16 infecções por ano, envolvendo diferentes sintomas. “Essas infecções são chamadas de IVAS (Infecções de Vias Aéreas Superiores), que se manifestam como gripes, resfriados, sinusites e otites, podendo evoluir para quadros de exacerbação de rinites alérgicas, bem como sibilâncias (que são os primeiros quadros de asma), exacerbação da própria asma e, além disso, quadros mais severos, incluindo pneumonia e bronquiolites”, ressalta Dr. Charbell, que também é responsável-técnico pelo Vacina Plinio Bacelar.

Com essa bagagem, ele ressalta os cuidados a se ter ainda na gestação, a fim de reduzir a ocorrência de infecções. “Primeiramente, é importante entender que o sistema imunológico da criança começa a se formar antes do nascimento. Isso abrange desde uma alimentação saudável para a gestante até boas vacinas recebidas na gestação, incluindo atualização da Covid-19, influenza, vírus sincicial respiratório (VSR), que é o causador da bronquiolite, além das vacinas para Hepatite B e Coqueluche, que também são determinantes para a proteção da criança. É essencial garantir uma boa imunidade materna, com alimentação, hidratação e vacinação. Também é importante que o bebê complete o período gestacional, com 37 semanas ou mais, pois assim receberá uma boa quantidade de anticorpos protetores”, conta Dr. Charbell.

Os cuidados, porém, não terminam aí. “Outro ponto fundamental é o aleitamento materno. O bebê que mama no peito apresenta menor risco de infecções, diarreias e dermatite atópica, além de ter menos chance de desenvolver diabetes e obesidade ao longo da vida, entre outros benefícios. É importante também valorizar o parto natural, que está associado a uma menor incidência de infecções respiratórias e diarreias. E, claro, fortalecer a imunidade com alimentação saudável, garantindo todos os nutrientes necessários para a criança, hidratação e uso de vitamina D desde o nascimento. Alguns bebês, principalmente os prematuros, se beneficiam do zinco. Já a suplementação de ferro, quando indicada, deve ser feita normalmente até os dois anos, seja para prematuros ou para bebês a termo. Outra recomendação é adiar, se possível, o início da vida escolar, a fim de garantir que a imunidade esteja mais desenvolvida. Mas, se for inevitável, o pediatra estará sempre a postos para acompanhar essas infecções e fazer as intervenções necessárias para resguardar a saúde da criança em toda sua integralidade”, frisa o médico, lembrando que outro ponto essencial é um cartão de vacina completo com todas as vacinas do calendário e, se possível, complementar com outras de maior cobertura, como pneumocócicas 15 e 20 valente, meningite B e ACYW, entre outras.