
Durante a gestação, especialmente no terceiro trimestre, algumas substâncias presentes em medicamentos e até em certos alimentos podem interferir no desenvolvimento saudável do coração do feto. Um dos riscos mais sérios é a constrição do ducto arterial, uma estrutura essencial na circulação fetal. Quando esse canal se fecha precocemente, o coração do bebê pode ser sobrecarregado, levando a complicações graves.
Quem nos explica melhor é a médica Dra. Verônica Martins, especialista em cardiologia pediátrica e fetal. “O ducto arterial é responsável por desviar o sangue dos pulmões — que ainda não estão em funcionamento — para o restante do corpo do feto. A constrição ou fechamento precoce desse ducto pode levar à insuficiência cardíaca fetal e até à morte intrauterina”, revela Dra. Verônica, destacando as substâncias que trazem esse risco. “O principal grupo de medicamentos associados a essa complicação são os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), como o ibuprofeno, cetoprofeno, nimesulida e diclofenaco. A dipirona e o paracetamol também estão incluídos nesse grupo, pois atuam de forma semelhante aos anti-inflamatórios. Esses remédios são de uso muito comum, mas devem ser evitados ao máximo no terceiro trimestre de gestação, a não ser que haja prescrição e acompanhamento médico obstétrico muito rigoroso”, disse.
Além dos medicamentos, algumas substâncias naturais, presentes em alimentos e chás, também merecem atenção, como lembra a médica. “Alimentos como café, chá verde, chá preto, chá de boldo, chocolate preto, suco de uva, beterraba crua, maçã com casca, refrigerantes, açaí e até o suco de laranja devem ser usados com muita cautela e sempre com orientação médica. Esses alimentos são ricos em polifenóis, substância que leva a essa constrição ductal, podendo afetar diretamente o coração do feto, sobrecarregando-o e causando riscos ao bebê se não tratada. Mas como suspeitamos da constrição ductal? Através do exame de ecocardiograma fetal, que deve ser realizado entre 24 e 28 semanas de gestação por profissional qualificado em Cardiologia Pediátrica e fetal”.
Na presença da constrição ductal, o que é aconselhado fazer? Como tratar? Dra. Verônica responde. “A grande maioria dos casos se resolve após suspensão da medicação anti-inflamatória ou similar e com uma dieta bem orientada com restrição dos alimentos ricos em substâncias polifenóis citados. Essa gestante pode necessitar de um acompanhamento rigoroso com exames de ecocardiograma fetal seriados até próximo ao nascimento do bebê. Além disso, a automedicação na gravidez pode parecer inofensiva, mas não é. Muitas vezes, o que é seguro para um adulto pode representar um risco real para o feto. Portanto, é fundamental que toda gestante, especialmente na reta final da gestação, consulte seu obstetra antes de usar qualquer remédio ou suplemento, mesmo os considerados naturais. Cuidar da saúde do bebê começa com a informação. Evitar essas substâncias no terceiro trimestre pode ser decisivo para garantir um coração fetal saudável e um nascimento seguro”.
