Por muito tempo, perpetuou-se no imaginário coletivo a ideia de que a infertilidade dizia respeito apenas à mulher, desconsiderando a influência masculina nesse processo. Nada mais falso: além de homens e mulheres apresentarem fatores específicos que podem contribuir para o quadro, o público masculino ainda pode ser afetado por um problema muitas vezes silencioso, mas capaz de comprometer significativamente a função reprodutiva. Trata-se da varicocele.
Embora pouco conhecida por grande parte do público, a varicocele é uma dilatação das veias responsáveis pela drenagem dos testículos, localizadas no escroto ou bolsa testicular. Quando dilatadas, essas veias podem elevar a temperatura local e prejudicar o fluxo sanguíneo, o que interfere na produção e na qualidade dos espermatozoides, afetando assim a função reprodutiva.
“A varicocele é a principal causa de infertilidade masculina e afeta uma parcela significativa dos homens”, afirma o médico urologista Dr. Douglas Gregório, que integra a equipe médica da Clínica Santa Maria. “Cerca de 15% deles terão varicocele ao longo da vida. Em muitos casos, porém, ela é assintomática, o que geralmente resulta em diagnósticos tardios. Mas é importante ressaltar que nem todos os homens com varicocele apresentam infertilidade. É preciso, então, uma análise criteriosa para avaliar a necessidade de intervenção”, disse o médico.
Com vasta experiência nesse tipo de atendimento, incluindo um observership em Infertilidade Masculina e Microcirurgia pelo New York Presbyterian Hospital – Weill Cornell University, Dr. Douglas explica que o tratamento da varicocele é por via cirúrgica, sendo a alteração da fertilidade o principal motivo para a intervenção. “Ao longo dos anos, foram desenvolvidas técnicas com diferentes níveis de efetividade e taxas de complicações. Hoje o método padrão ouro utiliza o microscópio cirúrgico, pois ele oferece a precisão necessária para alcançar as veias comprometidas. Isso porque os vasos são muito pequenos, e, para identificá-los corretamente, é necessário usar o microscópio durante a cirurgia, a fim de garantir um tratamento realmente eficaz”, revelou.
As inovações, contudo, não terminam aí. “Hoje incorporamos também o uso de um aparelho chamado doppler microvascular, capaz de detectar estruturas muito pequenas, distinguindo artérias e veias durante a cirurgia. Essa distinção é importante porque, às vezes, não conseguimos diferenciá-las mesmo com o auxílio do microscópio. Se ao invés de interrompermos o fluxo de uma veia doente ligarmos uma artéria por engano, podemos comprometer a irrigação sanguínea do testículo e consequentemente a produção de espermatozoides. O Doppler ajuda a evitar esse risco, tornando o procedimento ainda mais seguro”.
Segundo Dr. Douglas, a varicocele costuma passar despercebida, pois muitos homens acabam não identificando a alteração. Mas, em alguns casos, pode haver dor nos testículos, exigindo assim uma avaliação cuidadosa para descartar outras condições de saúde. Além disso, a varicocele varia em intensidade: formas mais intensas são visíveis, enquanto outras podem ser sentidas sem esforço ou aparecerem em manobras específicas. Alguns casos ainda são identificados somente com exame de ultrassonografia.
“Vale ressaltar que a varicocele pode trazer danos ao DNA dos espermatozoides, algo que não aparece nos exames comuns, mas que pode ser identificado por testes específicos”, alerta Dr. Douglas. “Essa alteração está associada a abortos recorrentes, falhas em reprodução assistida e infertilidade sem causa aparente, demonstrando a importância do acompanhamento médico adequado. Além disso, por ser progressiva, a varicocele pode causar infertilidade secundária, quando o casal, após ter um filho, passa a ter dificuldade para engravidar, o que também exige investigação”.