SBP alerta contra a exploração digital

Exploração digitalO cenário era moderno: uma mesa de podcast, com iluminação artificial e microfones de última geração. No comando da atração, porém, estavam três pré-adolescentes, que discutiam o futuro do trabalho para uma grande audiência, até um deles soltar uma frase que viralizou: “Por que eu vou saber quem foi Aristóteles? Não vai ajudar em nada na minha vida!”.

Cenas como essa passaram a se tornar frequentes na internet, onde já se criou a figura dos influenciadores e até dos coaches mirins. Trata-se de um grande número de meninos e meninas que, embora apresentem diferentes origens, partilham dos mesmos valores: a ilusão de uma vida fácil e luxuosa que é vendida pelas redes sociais, junto ao desprezo pelo esforço e pelo trabalho da forma como até então eram conhecidos, que seriam coisas “ultrapassadas”.
O caso ganhou ainda mais repercussão após uma matéria feita pela Globo News, mostrando “influenciadores mirins” não identificados, que apresentavam ganhos de mais de R$ 10 mil por supostamente lidar com marketing na internet. Em uma série de vídeos, eles buscavam vender cursos sobre como fazer dinheiro no ambiente digital, tentando atrair a audiência infantojuvenil com a promessa de dinheiro fácil, mencionando a “não importância de ir à escola” devido ao alto valor recebido “sem precisar de formação alguma”.

Diante disso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu uma nota de alerta sobre os chamados influenciadores mirins, apontando a existência de um “grupo mal-intencionado que atrai crianças e adolescentes nessa possível ‘pirâmide financeira’, ilegal conforme a Lei nº 1.521/51, para auferir seus lucros ilegítimos”. A entidade informou também que, através de sua Assessoria Jurídica, iria formalizar denúncia junto ao Ministério Público, solicitando a colaboração do Ministério da Justiça, do Ministério da Saúde e da Defensoria Pública. A ideia é instituir mecanismos para monitorar, fiscalizar e punir os responsáveis por trás desses conteúdos, visando resguardar as crianças e os adolescentes.

A entidade classificou o compartilhamento dos vídeos como um “exibicionismo degradante, afastando a criança da escola, do caminho para um desenvolvimento saudável, apregoado pela ciência, pela SBP e suas Filiadas, seus departamentos científicos e outras entidades nacionais e internacionais, como o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS)”. A diretoria da SBP citou ainda a decisão da Austrália de proibir o acesso à rede até os 16 anos, medida que, segundo ela, deveria ser estudada por outros países.

A SBP alertou, por fim, que os vídeos compartilhados incentivam o abandono escolar em prol de atividades remuneradas, violando um direito essencial e comprometendo o futuro escolar dos menores. “Rogamos aos colegas Pediatras e a todos os cidadãos de bem do país que permaneçam atentos e denunciem imediatamente iniciativas que, a exemplo dessa, colocam em risco o presente e futuro das nossas crianças e adolescentes”, conclamou.