
Nos últimos meses, um tema relacionado à saúde feminina ganhou proeminência em todo o país: os riscos da pré-eclâmpsia. Depois da ampla repercussão do caso envolvendo a cantora Lexa, que relatou a morte da filha em decorrência do problema, muitas gestantes começaram a se preocupar com essa condição, fazendo as pesquisas sobre pré-eclâmpsia e suas possíveis sequelas dispararem na internet, segundo dados do Google Trends.
Para abordar o assunto, o Mania de Saúde ouviu a médica patologista clínica Dra. Luciana Ferreira Franco, diretora administrativa e financeira da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), que recentemente publicou um artigo no portal da entidade demonstrando como os biomarcadores aumentam as chances de prever a pré-eclâmpsia na gestação. Por e-mail, ela respondeu algumas perguntas e deu orientações valiosas para as mulheres, alertando para a importância de intensificar os cuidados durante a gravidez.
Mania de Saúde – Como a Sra. analisa a percepção sobre a pré-eclâmpsia entre gestantes e profissionais de saúde? Eles, de modo geral, sabem identificar esse problema a tempo?
Dra. Luciana Ferreira Franco – A pré-eclâmpsia continua sendo um grande desafio para nós, médicos, porque nem sempre conseguimos prever a sua ocorrência de forma precisa. Mesmo as gestantes, que fazem todo o pré-natal corretamente, podem desenvolver formas graves da doença, mostrando como o diagnóstico pode ser complexo. Durante muito tempo, tentamos prever o risco com base apenas na história clínica da paciente, mas com limitações. Por isso, é fundamental aumentar a conscientização — tanto entre profissionais de saúde quanto entre as gestantes — e incorporar ferramentas mais modernas, como a solicitação dos biomarcadores, que nos ajudam a identificar precocemente quem tem mais chance de desenvolver a pré-eclâmpsia. Isso faz toda a diferença para termos um acompanhamento mais direcionado e seguro da gestação.
Mania de Saúde – Quais são os sinais que podem indicar pré-eclâmpsia e que exames ajudam a identificar o problema?
Dra. Luciana Ferreira Franco – A pré-eclâmpsia geralmente se manifesta com aumento da pressão arterial e sinais de que órgãos como os rins e o fígado estão sendo afetados. Um dos critérios clínicos importantes é a presença de proteinúria, que é a perda de proteína pela urina. Esses sinais clínicos nos ajudam no diagnóstico, mas hoje contamos com ferramentas adicionais que tornam essa identificação ainda mais precisa. O uso dos biomarcadores, por exemplo, tem um papel fundamental nesse processo. O PLGF, que é o fator de crescimento placentário, nos dá uma ideia da saúde da placenta. Quando os níveis desse marcador estão baixos — especialmente abaixo de 100 pg/mL — já acendemos um sinal de alerta. Se os valores estiverem abaixo de 12 pg/mL, o risco de complicações aumenta bastante. Quando combinamos o PLGF com outro marcador, o sFlt-1, conseguimos ainda mais precisão no diagnóstico e prognóstico da pré-eclâmpsia. Um índice sFlt-1/PLGF elevado indica que há uma chance maior de a gestante desenvolver uma forma grave da doença, o que nos permite agir com mais rapidez e segurança.
Mania de Saúde – Quando o risco é identificado, outros profissionais de saúde devem ser acionados para o manejo do problema?
Dra. Luciana Ferreira Franco – Quando identificamos uma gestante com risco aumentado para pré-eclâmpsia, é fundamental oferecer um acompanhamento pré-natal mais cuidadoso e individualizado. Nesses casos, muitas vezes é necessário envolver uma equipe multidisciplinar, com diferentes especialistas, para garantir uma assistência completa e segura. Essa abordagem mais especializada permite intervir precocemente e reduzir o risco de complicações graves, tanto para a mãe quanto para o bebê. O objetivo é sempre antecipar os problemas e agir de forma preventiva, tornando a gestação mais segura.
