Gestores de empresas e profissionais de RH já se habituaram a lidar com diferentes cenários de estresse no setor corporativo. Mas, atualmente, o tema vem ganhando novos contornos, sobretudo pela constatação de que 67% dos brasileiros sofrem com estresse no trabalho, ficando acima da média global, segundo pesquisa feita pelo ADP Research Institute®. Além disso, a quantidade de trabalhadores que se sentem apoiados em relação à saúde mental caiu de 70% para 64% nos últimos anos, enquanto 57% acreditam que os superiores não estão preparados para discutir o tema.
Embora o mercado de trabalho seja conhecido por seu dinamismoe complexidade, o que torna difícil encontrar respostas simples para todas essas demandas, algumas iniciativas vêm sendo adotadas pelo governo para aprimorar a relação entre empresas e colaboradores. A partir de maio de 2025, por exemplo, as empresas brasileiras terão que incluir a avaliação de riscos psicossociais no processo de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). A exigência é fruto da atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), promovida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em agosto de 2024. A mudança destaca que riscos psicossociais, como estresse, assédio e carga mental excessiva, devem ser identificados e gerenciados pelos empregadores como parte das medidas de proteção à saúde dos trabalhadores.
De acordo com o MTE, os riscos psicossociais estão relacionados à organização do trabalho e às interações interpessoais no ambiente laboral. Eles incluem fatores como metas excessivas, jornadas extensas, ausência de suporte, assédio moral, conflitos interpessoais e falta de autonomia no trabalho. Esses aspectos, segundo o órgão, podem resultar em estresse, ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental nos trabalhadores.
“Um dos maiores objetivos dessa medida é reforçar a necessidade de ambientes de trabalho saudáveis, promovendo a saúde mental dos trabalhadores e contribuindo para a redução de afastamentos e aumento da produtividade”, afirma Dr. Leonardo Bacelar, médico psiquiatra e diretor da Clínica Proteus, que é referência em medicina ocupacional e engenharia de segurança do trabalho. “Empregadores que já adotam boas práticas relacionadas aos riscos psicossociais, consequentemente, terão menos dificuldades na adaptação às exigências”, disse.
Segundo Dr. Leonardo Bacelar, a preocupação com a saúde mental vem aumentando nas empresas, que vivem desafios diferentes para equilibrar demandas organizacionais e o bem-estar de suas equipes. “É importante entender que o colaborador não está inserido apenas na empresa. Ele também tem a vida dele lá fora, com diferentes problemas. E, muitas vezes, isso acaba se refletindo no trabalho, dificultando a atuação da empresa caso ela não tenha conhecimento da situação”, conta o médico. “Por isso, muitas empresas já fazem o acompanhamento psicossocial dos colaboradores, com diferentes mecanismos para monitorá-los e encaminhá-los ao psicólogo ou ao psiquiatra sempre que houver necessidade, além de contar com a participação do médico do trabalho, que é essencial em todo esse processo”.
Por fim, Dr. Leonardo Bacelar ressalta a importância de os colaboradores também contribuírem para aprimorar essa relação, promovendo um melhor equilíbrio entre as partes. “Em caso de problemas, é necessário buscar ajuda logo no início, evitando que a situação se agrave. Outro ponto importante é compreender a natureza do ofício, pois há demandas que são características de cada profissão. A postura no ambiente laboral é outro fator determinante. Às vezes, o ambiente é ruim e ninguém busca melhorá-lo, enquanto também pode acontecer de um ambiente saudável se tornar negativo devido à personalidade de cada um. Isso demonstra que o estresse no trabalho não tem uma causa única. O essencial é contar com mecanismos para monitorar o comportamento dos colaboradores, realizar um diagnóstico preciso e oferecer todo o suporte necessário diante de eventuais problemas”.