Quem tem filhos na creche ou na escola provavelmente já passou por uma situação comum nos últimos anos: ver a criança com sintomas respiratórios e ter que buscar um atendimento de emergência. Afinal, desde 2023, essa tem sido uma preocupação crescente para muitas famílias brasileiras, já que as internações de bebês menores de um ano por pneumonia, bronquite e bronquiolite em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) bateram recorde no país, segundo levantamento realizado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), iniciativa da Fiocruz e Unifase.
Só no ano passado, por exemplo, foram 153 mil internações, uma média de 419 por dia, o que corresponde a um aumento de 24% em relação ao ano anterior. É o maior número registrado nos últimos 15 anos, segundo a Fiocruz. Mas não para por aí: dados recentes do Ministério da Saúde revelam que, em 2024, essa cifra ainda se mantém alta, superando os níveis registrados antes da pandemia, tendo o risco de atingir 143 mil registros de hospitalização até o final de dezembro.
Mas quais são as causas dessa incidência? Por que estão surgindo tantos problemas respiratórios em bebês? Quem nos traz a resposta é o médico pediatra e infectologista Dr. Charbell Miguel Haddad Kury. “Existem muitas teorias que explicam essa maior incidência de problemas respiratórios no país. A primeira é o fenômeno pós-covid-19, em que as crianças estavam resguardadas em casa na época da pandemia e retornaram à escola após esse período, iniciando assim um ciclo de infecções repetidas como gripes, sinusites e otites com uso frequente de antibióticos. A isso chamamos de ‘débito imune’”, afirma Dr. Charbell.
Outra teoria, segundo ele, é a chamada “tempestade viral”, que também se notabilizou no pós-pandemia, com a circulação de diversos vírus respiratórios fora de sua sazonalidade, gerando surto de bronquiolite e influenza fora do período normal, como ocorreu em 2021. “E, por último, temos o fenômeno de substituição de sorotipos para o pneumococo, com a entrada de novas cepas da bactéria pneumococo mais severas e resistentes aos antibióticos, sem existir vacinas específicas para elas no nosso calendário do SUS”, ressalta Dr. Charbell.
Responsável-técnico pelo Vacina Plinio Bacelar, ele comenta os problemas mais prevalentes no público infantil e quais vacinas podem ser utilizadas para resguardar a saúde dos pequenos. “São quadros de otites de repetição, pneumonias severas com necrose pulmonar e necessidade de drenagem torácica ou intervenções cirúrgicas, além de sinusite de repetição tanto em crianças quanto em adultos. A vacina Pneumocócica 10 valente do Ministério da Saúde é considerada defasada atualmente, pois não possui as cepas 19A e 3, responsáveis por mais de 80% dos quadros de doenças pneumocócicas no Brasil. E, por último e mais grave, hoje as meningites por pneumococos ultrapassaram o meningococo e são as maiores causadoras de meningites no Brasil. Para isso, a solução é investirmos em vacinas de maior valência protetora, como Pneumo-15, ou o grande lançamento de novembro, a Pneumo-20, reduzindo assim a carga tão devastadora da doença”.