Parece pouco, mas não é. Uma simples taça de vinho ou aquele gole de cerveja numa reunião social pode parecer inofensivo para algumas gestantes, mas esse gesto é capaz de trazer graves sequelas para a criança e prejudicar diretamente o seu desenvolvimento. Trata-se da chamada Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que vem desafiando médicos mundo afora e expõe a urgência de falar sobre os riscos do álcool, mesmo em doses mínimas, durante a gravidez, como revela a médica Ginecologista e Obstetra Dra. Flávia Murta.
– A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é a consequência mais grave da exposição pré-natal ao álcool e pode causar danos permanentes ao bebê. O álcool atravessa a placenta com facilidade, e como o fígado do feto ainda não está desenvolvido para metabolizá-lo, ele permanece por mais tempo na circulação fetal, interferindo no desenvolvimento de órgãos vitais, especialmente o cérebro. Os efeitos podem incluir alterações cognitivas, dificuldades de aprendizagem, atraso no desenvolvimento motor e da linguagem, distúrbios de comportamento, além de malformações faciais e cardíacas. O impacto é permanente e pode variar em intensidade, mas não existe um nível de consumo considerado seguro na gestação — mesmo pequenas doses podem causar prejuízos. Por isso, a recomendação é de abstinência total durante toda a gravidez.
Mania de Saúde – Na sua experiência médica, as mulheres têm consciência dos riscos que o álcool representa durante a gestação? Já acompanhou casos em que esse consumo resultou em consequências graves para o bebê?
Dra. Flávia Murta – Na prática clínica, percebo que muitas mulheres ainda não têm total consciência dos riscos que o álcool representa durante a gestação. Há uma ideia culturalmente enraizada de que pequenas quantidades — como uma taça de vinho ou uma dose ocasional — seriam inofensivas, o que não é verdade. Mesmo o consumo considerado “social” pode trazer consequências sérias para o bebê, especialmente nas fases iniciais da gravidez, quando muitas ainda nem sabem que estão gestantes. Já acompanhei casos em que a exposição ao álcool resultou em alterações significativas no desenvolvimento infantil, com repercussões cognitivas, comportamentais e motoras. São situações que poderiam ser totalmente prevenidas com a conscientização adequada. Por isso, reforço sempre que não existe dose segura de álcool na gestação, e que a informação é nossa principal ferramenta de prevenção.
Mania de Saúde – Qual é o papel do ginecologista na prevenção dessa síndrome antes e durante a gravidez?
Dra. Flávia Murta – O ginecologista tem um papel fundamental na prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal, tanto no período pré-concepcional quanto durante a gestação. Antes mesmo da gravidez, é importante abordar hábitos de vida da paciente, incluindo o consumo de álcool, e orientar sobre os riscos da exposição fetal. Essa conversa preventiva deve acontecer ainda na fase de planejamento, pois muitas vezes o consumo ocorre nas primeiras semanas, quando a mulher ainda não sabe que está grávida. Durante o pré-natal, o acompanhamento próximo e a criação de um vínculo de confiança são essenciais para que a gestante se sinta acolhida e segura para falar sobre seus hábitos. O papel do ginecologista vai além da orientação técnica — envolve escuta ativa, empatia e educação em saúde. Reforçar de forma clara que nenhuma quantidade de álcool é segura na gestação é uma das medidas mais eficazes de prevenção.
