(*) Sthevo Damaceno é jornalista e
editor do jornal Mania de Saúde.
sthevodamaceno@maniadesaude.com.br

Sthevo Damaceno

A beleza do inesperado

(*) Sthevo Damaceno é jornalista e
editor do jornal Mania de Saúde.
sthevodamaceno@maniadesaude.com.br

Sthevo Damaceno
Beleza do InesperadoNão é interessante assistir a um filme, ouvir um disco ou ler um livro quando estão completamente fora do “hype”? O termo pode soar estranho para os não familiarizados, mas é basicamente como os jovens dos anos 2000 se referiam a algo de grande popularidade, a ponto de se tornar assunto em todos os círculos sociais. Quando filmes e livros entravam no “hype”, por exemplo, era quase obrigatório se informar sobre eles para não se sentir excluído, já que todos estavam a par do “hype” do momento. Se observarmos a etimologia, inclusive, a conversa fica ainda mais curiosa: “hype” vem do grego “hypér”, que significa “muito” ou “grande”. Nesse aspecto, a palavra estaria inteiramente de acordo com o sentido dado pelos jovens, mas a verdade é que ela é um pouco mais antiga (e até mais sugestiva), já que foi importada dos Estados Unidos, designando “propaganda ou publicidade enganosa” desde 1967. Antes disso, era definida como o ato de “enganar os outros comercialmente”, sendo assim registrada em dicionários desde a década de 1920. O tão famoso “hype” não passaria então de uma simples falácia? Sei é que, há algumas semanas, um amigo veio me falar do filme “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, quando este já parecia ter sumido totalmente da memória dos seus milhares de espectadores pelo mundo. Esse amigo não só apreciou o filme sobre o “criador da bomba atômica”, como também ficou interessado em ler o livro que originou a história, revelando como era interessante apreciar um determinado produto quando ninguém mais está falando dele. A busca incessante pela novidade muitas vezes pode obscurecer a verdadeira apreciação. Coincidentemente ou não, logo me lembrei da TikToker americana Courtney Henning Novak, que viralizou ao comentar sua leitura de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Ela iniciou um projeto de ler um livro de cada país, seguindo as letras do alfabeto. Na letra “B”, Courtney optou pelo Brasil e elegeu o clássico de Machado de Assis, demonstrando uma escolha absolutamente fortuita e casual, frente a tantos outros países e títulos disponíveis. Milhares de internautas brasileiros, claro, logo se entusiasmaram com Courtney, que não só demonstrou uma paixão avassaladora pelo maior nome da nossa literatura, como também figurou em nosso noticiário por vários dias. O resultado não poderia ser outro: a obra-prima do Bruxo do Cosme Velho, que muitas vezes ficava esquecida em sebos e livrarias, rapidamente entrou no “hype”, chamando a atenção de jovens do país inteiro justamente na rede social mais “hypada” da atualidade. Que a surpresa e o encanto da TikToker americana inspirem mais pessoas a se tornarem menos dependentes de modismos, valorizando o acaso que permeia tanto a vida quanto a própria literatura.