Estamos com fome ou é nosso cérebro nos pregando uma peça?
Quantas vezes não nos pegamos comendo motivados por alguma emoção? Comemos quando estamos tristes, estressados, ansiosos. Também comemos quando estamos felizes ou para celebrarmos. Fazemos isso sem pensar, no automático, principalmente quando se trata de uma emoção negativa. E sempre achamos que o que estamos sentindo nesse momento é fome. Mas será que toda “fome” é realmente de comida?
Quem nos fala sobre o assunto é a nutricionista Viviane Barreto. “Nosso cérebro é uma máquina extraordinária, e sabe muito bem que não podemos perder tempo questionando o que sentimos ou fazemos. Para economizar energia e tempo, ele, de forma autônoma, estabelece respostas imediatas, a partir de experiências anteriores. Quando temos emoções negativas, sentimos o desejo de comer coisas gostosas, pois, em algum momento da nossa vida, comer um alimento ‘gostoso’ nos fez sentir melhor — liberando dopamina e nos dando a sensação de prazer. Esse sentimento de satisfação fica registrado em nosso cérebro como sendo uma possível resposta imediata para as próximas vezes em que nos sentirmos tristes ou ansiosos”, explicou.
Contudo, ao respondermos nossos problemas emocionais com a comida, estabelecemos um padrão de comportamento que não é saudável, como ressalta a nutricionista. “Alimentos liberadores de dopamina geralmente são hiper palatáveis, ricos em açúcar, gordura ou sal. São os doces, chocolates, salgadinhos, pizzas, sanduíches, batatas fritas que são extremamente calóricos, mas que são os responsáveis por ativar no nosso sistema de recompensa a liberação de neurotransmissores que nos darão a sensação de prazer. Assim, se estamos cansados, estressados ou ansiosos, nossa primeira escolha não será um prato de salada, uma fruta ou legumes, e sim alimentos calóricos, que trazem mais conforto. Ao estabelecermos um padrão de comportamento automático, raramente questionamos o que estamos sentindo e entramos em um ciclo de comer por emoções. Não paramos para pensar o porquê preferimos esses alimentos, simplesmente comemos. Como consequência, desenvolvemos doenças crônicas, como diabetes tipo 2, obesidade e hipertensão, além de afetar a nossa autoestima”.
Mas qual seria então o primeiro passo para sair desse padrão de comportamento? “É entender o que estamos sentindo antes de procurar a resposta na comida”, frisa Viviane. “Isso nos ajuda a estabelecer respostas mais saudáveis para essas emoções ao invés de comer todas as vezes que estamos com sentimentos negativos. Ter uma rotina de hábitos saudáveis é uma ferramenta imprescindível para romper com esse padrão de comportamento alimentar disfuncional. Isso não significa que não vamos mais comer alimentos que nos trazem conforto, mas essa não será mais a nossa resposta imediata, e sim uma decisão consciente de quem já fez as pazes com a comida e consigo mesmo”.