Você já parou para observar quantas pessoas lidam com problemas de saúde que jamais esperavam ter? Pois é. Enquanto algumas enfermidades se revelam de imediato, exibindo sintomas notórios, outras surgem de forma discreta, por vezes só sendo percebidas em estágios avançados, impactando em muito a qualidade de vida do indivíduo. É o caso das perdas auditivas, que se tornaram cada vez mais comuns no mundo contemporâneo, devido à maior longevidade da população.
Mas é importante ressaltar que, embora seja associada às mudanças fisiológicas ocorridas no processo de envelhecimento, a perda auditiva também pode se originar por diversos outros fatores, incluindo a exposição a ruídos de máquinas, shows, headphones, entre outros equipamentos, ocasionando sintomas não tão aparentes, mas que, com o tempo, resultam em uma perda mais grave, dentro da chamada Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair).
Recentemente, inclusive, ela virou notícia depois que alguns pesquisadores buscaram entender como o problema ocorre. Eles identificaram que sons em alto volume têm o potencial de afetar as estruturas do ouvido em um nível molecular, interferindo na função auditiva e aumentando a quantidade de zinco na cóclea, segundo texto publicado na revista científica PNAS e divulgado pela jornalista Gabriela Maraccinida, da CNN Brasil.
Para realizar a descoberta, os cientistas utilizaram camundongos, que foram expostos a uma alta carga sonora. Logo em seguida, os níveis de zinco lábil nos roedores aumentaram, provocando uma forte desregulação. Esse processo resultou em danos ao organismo, além de levar à degeneração das células cerebrais, ocasionando a perda auditiva.
Embora o fenômeno da Pair ainda não seja totalmente compreendido, esse foi o primeiro trabalho a identificar a desregulação do zinco no ouvido após exposição a ruídos altos, lançando uma nova perspectiva sobre o assunto. Mas não terminou aí. Segundo os pesquisadores, a administração de medicamentos que retêm o excesso de zinco lábil poderia contribuir para reverter esse problema. No entanto, como alertou a reportagem, mais estudos são necessários para confirmar as descobertas.
Porém o que chamou a atenção dos pesquisadores, logo após o estudo, foi comprovar o real impacto da perda auditiva induzida por ruído, que hoje faz parte da rotina de inúmeras pessoas diariamente. Isso porque grande parte da população vive exposta a barulhos em casa ou no trabalho e, muitas vezes, acaba se habituando aos ruídos, sem saber que pode estar sendo vítima de uma perda auditiva leve.
“O grande desafio relacionado à perda auditiva é a forma como as pessoas se habituam àquela condição”, revela a fonoaudióloga Dra. Eliana Mancini, gestora da Sonoris Campos. “Muitas vezes, acontece de o indivíduo ter aquela sensação de som abafado, ou mesmo um zumbido leve, mas pensar que é passageiro e ignorar o problema. Ele acaba se acostumando e nem percebe o dano causado à audição. Porém, quando chega aos 50 ou 60 anos, essa perda auditiva entra em um estágio mais avançado, provocando isolamento, dificuldades no convívio e até mesmo repercussões psicológicas, como a depressão”, alerta a especialista. “Já atendemos diversos tipos de profissionais que viviam expostos a ruídos e se surpreenderam ao fazer uma avaliação. Eles tinham perda auditiva e nem imaginavam. É importante, então, não menosprezar o problema. Até porque, quanto mais rápido identificarmos a perda auditiva, melhor”.