
A estatística é assustadora: cerca de 77% dos brasileiros consomem medicamentos sem nenhuma prescrição médica, conforme dados do Conselho Federal de Medicina (CFM). Isso mostra que a automedicação é, de fato, um dos grandes desafios da saúde no país. Mas o problema não termina aí, já que muitos desses medicamentos pertencem à área da psiquiatria, podendo trazer consequências ainda mais graves quando utilizados sem supervisão médica.
É o caso, por exemplo, da fluoxetina, que embora seja bastante popular, não está isenta de riscos, sendo muitas vezes consumida por jovens e adultos sem o devido acompanhamento profissional. A fim de abordar o assunto, o Mania de Saúde ouviu a médica psiquiatra Dra. Lana Maria Pereira, que destaca os riscos envolvidos no uso inadequado da substância.
“A fluoxetina surgiu durante as décadas de 1970 e 1980 como uma esperança para muitas pessoas, sendo um potente inibidor de recaptação de serotonina. Esse medicamento ficou conhecido pelo nome de Prozac e foi logo rotulado por muitos como ‘a pílula da felicidade’, trazendo grandes expectativas para o tratamento e a cura da depressão. Com o passar do tempo, no entanto, ele começou a ser prescrito em excesso, tendo sido observado que alguns pacientes cometiam suicídio, frente à elevação abruta de humor. Isso trouxe uma série de preocupações quanto ao uso da fluoxetina sem o acompanhamento médico adequado, que pode resultar em diversas complicações para o paciente”, afirma Dra. Lana.
Esse cenário, segundo ela, tornou-se ainda mais complexo devido ao uso da fluoxetina para outras finalidades, contribuindo para o maior consumo da substância. “Ao longo dos anos, a fluoxetina passou a ser utilizada na cardiologia, especialmente para indivíduos com hipertensão decorrente de ansiedade, bem como na endocrinologia, sendo uma opção para a perda de peso. Isso fez com que inúmeras pessoas utilizassem a fluoxetina para outros propósitos, mas sem a supervisão da psiquiatria, trazendo ainda mais riscos à saúde”, alertou.
Dra. Lana ressalta a importância da prescrição adequada do medicamento. “A fluoxetina é um remédio eficaz para o tratamento da depressão, além de melhorar a ansiedade, regularizar o sono e mudar a relação com a alimentação, especialmente se esses aspectos estiverem relacionados ao quadro depressivo ou ansioso. Mas é preciso ter cuidado, porque ela é indicada para diversas condições, incluindo bulimia, síndrome do pânico e transtorno obsessivo-compulsivo, o que requer todo um cuidado na hora de prescrevê-la. Muitas vezes, por exemplo, a depressão pode estar relacionada ao transtorno de humor bipolar. Ou seja: você pode sair do estado depressivo, mas entrar em uma fase de mania, o que é muito perigoso”, disse.
Apesar de sua popularidade, no entanto, a fluoxetina tem sido progressivamente substituída por tratamentos mais modernos, o que reforça a importância de orientação profissional. “Embora a fluoxetina seja um bom medicamento, ela já não é tão prescrita pelos médicos psiquiatras como era no passado. Hoje existem diferentes inibidores seletivos de recaptação de serotonina, como a paroxetina, o escitalopram, entre outros, que possuem uma eficácia terapêutica muito superior e proporcionam resultados melhores ao paciente. O importante é ele não negligenciar os sintomas e buscar o devido tratamento”.