Como você lida com o autismo?

Como você lida com o autismo?O dia 02 de abril foi eleito pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2007, como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Desde então, autoridades de saúde e órgãos governamentais celebram o “Abril Azul”, com o objetivo não só de combater os estigmas associados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas também de oferecer orientação aos pais quanto à forma adequada de acompanhar o desenvolvimento de seus filhos, buscando compreender e apoiar as necessidades específicas das crianças com TEA.

Quem nos fala sobre o assunto é a Dra. Cláudia Boechat, diretora da Helpers Autismos, que é especialista no atendimento a crianças e adolescentes com TEA e TDAH. Ela explica como a postura da família costuma variar em relação ao transtorno. “O comportamento dos pais diante do TEA é influenciado por diversos fatores, como a história pessoal e o impacto do autismo na dinâmica familiar. Enquanto alguns lidam muito bem com filhos que apresentam um comprometimento maior, por exemplo, outros enfrentam dificuldades em casos de menor comprometimento, demonstrando como a resposta ao autismo varia de acordo com as circunstâncias de cada família. O mais importante é que os pais entendam a singularidade do autismo e busquem um profissional que seja especialista no filho deles, a fim de assegurar um tratamento mais adequado à criança”, afirma Dra. Cláudia.

Dra. Cláudia Boechat - Como você lida com o autismo?
Dra. Cláudia Boechat, diretora da Helpers Autismos

Ela ressalta, também, a importância da proatividade dos pais nesse processo. “É fundamental que os pais estudem, procurem médicos, questionem tudo, mas sem transferir responsabilidades. Eles não podem delegar para outra pessoa o poder de definir a terapia ideal para a criança. Se os pais não têm tempo para se dedicar ao TEA, é hora de repensar esse comportamento, já que a participação deles é imprescindível”, alerta a especialista. “E se ainda assim tiverem que dedicar muito tempo ao trabalho, eles vão precisar de uma rede de apoio que entenda as características da criança, incluindo grupos de pais e terapeutas, como forma de garantir o suporte adequado para o seu filho”, disse.

As orientações, contudo, não terminam aí. “É muito importante também que os pais aprendam a regular suas próprias emoções, a cuidar da respiração, de modo que, quando o filho estiver desregulado ou enfrentando algum problema, eles possam se acalmar e ajudar na regulação da criança, o que chamamos de corregulação. Além disso, tenho um grande apreço pelos psiquiatras, que fazem um trabalho excelente com os pais nesse aspecto, bem como os psicólogos e os grupos de apoio, onde é possível trocar experiências. Mas é crucial que esses grupos sejam espaços produtivos, onde os pais compartilhem estratégias, em vez de se tornarem focos de lamentações. Devem ser ambientes de aprendizado e apoio mútuo”.

Além da necessidade de os pais se informarem e participarem da terapia, onde irão aprender estratégias a serem aplicadas em casa, é necessário também que eles fiquem atentos às especificidades do seu filho. “Um dos maiores erros é negligenciar os sinais que a criança está emitindo. Às vezes o médico diz que a dieta não é relevante, mas eles observam que a criança fica agitada ao ingerir um Guaravita, por exemplo, ou um alimento específico. Mesmo assim, eles não reagem, sendo que perceberam o dano causado à criança”, alerta Dra. Cláudia. “Muitos pais não experimentam coisas simples, como alterar a dieta, cortar o açúcar ou retirar o glúten e a caseína. Muitas vezes, eles acabam optando por medicamentos pesados sem necessidade. Outro erro comum é não presumir competência, não entender que o filho tem dificuldades motoras ou questões sensoriais, mas não tem problema cognitivo. É essencial, portanto, que os pais confiem nas habilidades de seus filhos e procurem profissionais que compartilhem dessa visão”.

Dra. Cláudia lembra, por fim, que a Helpers Autismos organizou um grupo de apoio gratuito para oferecer maior suporte às famílias. Os encontros acontecem de forma quinzenal, alternando entre consultas presenciais na clínica e sessões online, permitindo que pessoas de outros municípios consigam participar das reuniões. “Como mentora do TACA, uma associação americana, onde pais experientes ajudam aqueles com menos experiência, busco reproduzir esse modelo aqui na clínica. Até porque os pais necessitam desse apoio, precisam trocar experiências, além de estudar muito, porque cada idade tem um desafio novo e eles precisam estar sempre preparados”, finaliza.