
Historicamente, as mulheres sempre cuidaram mais da saúde do que os homens, mas isso não significa que o público feminino possa subestimar a importância do autocuidado. Pelo contrário. De acordo com as mais recentes projeções do Instituto Nacional de Câncer (INCA), para cada ano do triênio 2023-2025 são estimados 73.610 casos de câncer de mama e 17.010 de colo do útero. Isso para não falar do câncer de ovário, que também figura no ranking dos cânceres mais prevalentes entre o público feminino.
É nesse contexto que a Oncoginecologia vem se tornando uma grande aliada de inúmeras mulheres, lançando mão de diferentes estratégias para favorecer o diagnóstico, o tratamento e a prevenção dos cânceres que afetam os órgãos femininos. Para abordar o assunto, o Mania de Saúde foi até à Clínica Santa Maria e conversou com a médica cirurgiã oncológica Dra. Meire Cardoso da Mota Bastos. Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Campos (FMC), com formação em Cirurgia Geral pelo Hospital Escola Álvaro Alvim (HEAA) e em Cirurgia Oncológica pela AFECC-Hospital Santa Rita de Cássia-ES, ela passou por grandes centros de Oncoginecologia, como o Hospital de Câncer de Barretos-SP e o Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba/PR, sendo a primeira profissional mulher a ter esse tipo de especialização na região.
Com toda essa experiência, Dra. Meire explica como a oncoginecologia tem beneficiado as mulheres na atualidade. “A oncoginecologia é uma área voltada para o câncer feminino, atuando desde o diagnóstico até o tratamento cirúrgico dos mais diferentes tipos de tumores, incluindo mama, ovário, vulva, útero, entre outros. Isso envolve anos de treinamento intensivo de técnicas cirúrgicas importantes para melhor atender às mulheres, que acabam se sentindo mais confortáveis com esse tipo de atendimento”, conta Dra. Meire. “Hoje, na clínica, tenho dado ênfase à área de mastologia e oncoginecologia, atuando em conjunto com outros profissionais, fazendo o manejo de lesões pré-cancerígenas até lesões neoplásicas malignas, que muitas vezes têm metástases associadas. É um leque de atuação muito abrangente, mas sempre trazendo um olhar diferenciado para a saúde da mulher como um todo”, relatou.
O olhar referido por Dra. Meire, inclusive, já foi confirmado pela ciência, já que dois estudos realizados no Canadá e na Suécia, publicados este ano pela revista especializada JAMA Surgery, indicam que pacientes operados por mulheres sofrem menos complicações pós-operatórias, resultando também em uma menor taxa de mortalidade. “A rigor, todos têm a sua qualificação profissional, mas, na prática do consultório, vemos um conforto das pacientes em serem cuidadas por outras mulheres, sentindo-se mais seguras e confiantes em passar determinadas informações que dizem respeito à sua própria intimidade”, diz Dra. Meire.
Ela comenta como essa atuação é feita na clínica. “Nosso trabalho é multidisciplinar, ou seja, envolve diferentes profissionais. Estamos sempre discutindo casos em conjunto, principalmente quanto às lesões mais avançadas, mas outro braço importante desse trabalho é a identificação das populações de risco. Para isso, contamos com a atuação do geneticista, que fará o aconselhamento genético, bem como os testes genéticos, a fim de verificar se os demais membros da família podem vir a desenvolver o câncer. Mas vale ressaltar que apenas 20% a 25% dos casos estão relacionados à hereditariedade. Na maioria das vezes, o câncer pode surgir de forma esporádica, já que é uma doença multifatorial. Isso aumenta a importância de estar sempre fazendo o exame preventivo ginecológico, o rastreamento do câncer de mama, que é o mais prevalente nas mulheres depois dos tumores de pele não melanoma, para identificar alterações e intervir precocemente. Isso aumenta as chances de cura, além de promover uma melhor qualidade de vida à paciente, que é sempre o objetivo maior de nossa atuação”.