Psicóloga aborda tema importante para a comunidade acadêmica
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é a segunda principal causa de morte entre jovens da faixa etária de 15 a 29 anos, e desde 2002 os estudos apontam um aumento nos casos de suicídio entre jovens brasileiros. Diante dessas informações, torna-se pertinente nos perguntarmos: O que está acontecendo? Qual é o problema? Por que os jovens estão tão adoecidos? É uma questão individual, coletiva, social? Que modos de viver podem estar favorecendo esse adoecimento?
Quem nos fala sobre este assunto é a psicóloga Nayara Chagas. “O aumento das taxas crescentes de depressão entre os jovens é complexa e envolve uma gama de fatores, por isso não há uma única resposta para todas essas questões, mas pretendo elucidar possibilidades a partir da minha experiência como psicóloga clínica, com uma demanda significativa de estudantes universitários, principalmente do curso de medicina. Eles chegam ao consultório muito frustrados, exaustos, relatando dificuldade de conciliar estudo e lazer, insegurança em relação ao futuro, conflitos interpessoais, medo de decepcionar, desesperança, ansiedade, angústia, insônia, distúrbios alimentares, tristeza profunda, mas, ainda assim, tendem a minimizar o que sentem, com um discurso de menos valia, incapacidade e fracasso; compreendendo como um problema particular, que diz respeito a alguma dificuldade individual. Resguardando a singularidade que há em cada caso, e que de modo algum é desconsiderada no processo terapêutico, precisamos olhar para o modo como somos incentivados a viver, e como isso afeta diretamente os jovens, que estão repletos de indecisões, buscando pertencimento em um momento de muitas mudanças, mas sendo pressionados a decidirem o rumo da vida e a provarem que conseguem o desempenho esperado”.
Distante de buscar uma relação de causa e efeito, a psicóloga faz um convite à reflexão sobre o modo como vivemos. “Byung Chul Han, um filósofo sul-coreano, em seu livro Sociedade do Cansaço, afirma que o ocidente está se tornando uma sociedade do desempenho, relacionando o cansaço a uma produtividade desenfreada em que não há espaço para o silêncio, para o ócio, para o descanso. E a sensação é de nunca ser suficiente, porque parece que há sempre algo a ser feito. De tanto ‘fazer’, falta tempo para ‘ser’. Assim, desenvolvemos um cansaço que destrói os sentidos, tornando a existência mais uma mercadoria, onde tudo se torna ‘produtível’. Com a individualização do mal-estar, o caminho encontrado por muitos estudantes é o silêncio, o isolamento, o uso abusivo de álcool e outras drogas, a interrupção do curso e/ou da vida. Imagine que você está em um local, toca o alarme de incêndio, mas você está com um fone de ouvido e não escuta. O que acontece? Podemos pensar que o sofrimento é esse alarme que chama a atenção para o próprio existir, aponta para algo que precisamos lidar. Quanto mais alto estiver o som das expectativas, do julgamento, da idealização, do medo, maior é o risco do esvaziamento de sentido, que torna o solo fértil para a depressão. Quem pensa que vai ser considerado fracassado, não pede, nem tampouco, aceita ajuda. Por isso é crucial que as instituições de ensino reconheçam essa realidade e implementem programas de apoio. Priorizar a prevenção dos problemas e favorecer a promoção do bem-estar entre os universitários deve caminhar ao lado da oferta de tratamento quando os problemas aparecerem. Falar de Saúde Mental é falar de sentimento, é falar de sentido, é se perguntar para que você vive do modo que vive, e que recursos estão disponíveis para que a vida não seja movida só por uma sucessão de resultados esperados, mas também com possibilidades e encontros que nutram sentido. Falar de Saúde Mental é falar de limites, compreendendo possibilidades como o que pode ser feito a cada momento, e não como ‘querer é poder’. Será que podemos construir modos mais saudáveis de viver?”, finaliza Nayara.