Nas últimas décadas, a figura tradicional do médico passou por grandes transformações na sociedade, especialmente com a chegada da tecnologia. Se no passado o médico parecia restrito aos consultórios e ambientes hospitalares, hoje ele está cada vez mais ativo na internet e nas redes sociais, além de empregar a tecnologia na realização de inúmeros diagnósticos. Esse fenômeno, porém, acaba levantando questões importantes sobre a humanização da medicina, gerando desafios crescentes em um mundo cada vez mais digital.
Para discutir o assunto, no mês em que se comemora o Dia do Médico, o Mania de Saúde entrevistou Dr. Flavio Rodrigues Ribeiro, Coordenador da Representação do CREMERJ de Campos dos Goytacazes. Formado pela Faculdade de Medicina de Campos (FMC) e tendo especialização em pediatria e cardiopediatria, Dr. Flavio é professor do componente de Urgência e Emergência da FMC desde 2010 e Mestre em Pesquisa Ocupacional e Inteligência Computacional Aplicada à Saúde, lidando diretamente com o uso da tecnologia em sala de aula.
Ele atendeu nossa reportagem e comentou o papel do médico em tempos de redes sociais, abordando um tema que vem chamando bastante a atenção da classe: os limites da publicidade médica. “Essa é uma questão bastante delicada, pois o Conselho Federal de Medicina (CFM) vem estabelecendo novas regras éticas de como o médico pode se comportar nas redes sociais. Da mesma forma em que ele pode utilizar as ferramentas on-line para se aprimorar profissionalmente e fornecer conhecimento para a população, ele também deve tomar alguns cuidados na hora de divulgar o seu trabalho, sobretudo quando envolve a imagem de terceiros”, afirma o coordenador. “Enquanto o paciente tem a liberdade de tirar fotos com o médico e divulgar no seu perfil pessoal, como ocorre em casos de procedimentos estéticos, por exemplo, o médico precisa ter cautela ao fazer essa divulgação, que deve ter caráter educativo e obedecer às diretrizes do CFM”, acrescentou.
No meado de setembro, como revela Dr. Flavio, o Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou as regras para a publicidade médica, através da Resolução CFM nº 2.336/2023, que entrará em vigor a partir de março de 2024. Dentre os novos regramentos para publicidade médica, estão as postagens mostrando antes e depois, que estarão permitidas, desde que sejam feitas de forma educativa, sem manipulação de imagem e sempre explicando as possíveis complicações do procedimento, preservando o anonimato do paciente mesmo diante de sua autorização, respeitando seu pudor e privacidade, sendo vedado garantias, sem uso de adjetivos que denotem superioridade e respeitando a vedação do ensino do ato médico a outros profissionais. O mesmo regramento geral se aplica na divulgação de resultados, agradecimentos e elogios publicados por seus pacientes, em que o médico poderá repostar marcações dos pacientes, desde que atento aos dispositivos descritos na resolução completa, que pode ser conferida no site do CFM, em: www.portal.cfm.org.br.
A onipresença da tecnologia, porém, não traz desafios apenas na divulgação do trabalho do médico. Um tema que vem se tornando recorrente nesse contexto é a própria humanização da medicina. Dr. Flavio comenta como ela é trabalhada hoje junto aos alunos. “A humanização é, de fato, o assunto do momento. O importante é ter sensibilidade para definir até onde a tecnologia pode ir e até onde a parte humana deve entrar. A Inteligência Artificial (IA), por exemplo, é uma realidade que vem sendo utilizada nos tempos modernos, inclusive, no ensino médico, como já vem sendo abordado atualmente na FMC. Mas estas novas ferramentas sempre devem ser utilizadas de forma consciente, pois o fator humano jamais pode ser menosprezado. A decisão é sempre a do médico”, alerta Dr. Flavio. “Outro exemplo da modernidade é a cirurgia robótica, onde o médico consegue manusear um robô para dar maior precisão aos procedimentos cirúrgicos, porém, se houver alguma intercorrência em que o médico não consiga fazer a intervenção através da cirurgia robótica, existem protocolos a serem seguidos, tendo uma equipe cirúrgica pronta para entrar em ação caso se faça necessário. Ou seja: o ato médico será sempre preponderante. É isso que a gente vem trabalhando na graduação médica, permitindo que os jovens absorvam esses conceitos e cheguem ao mercado de trabalho mais aptos a enfrentar os desafios gerados por esse mundo cada vez mais digital”.