Dependência química: um debate importante

Dependência química: um debate importanteMédica psiquiatra aborda os principais pontos da doença

A dependência química é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, impactando não apenas indivíduos, mas também suas famílias e comunidades. É importante, então, divulgar as causas da dependência química, as consequências devastadoras do problema e os esforços realizados para prevenção, tratamento e recuperação dos pacientes, lançando luz sobre um tema de grande relevância na atualidade.

Quem nos fala sobre esse assunto é a médica psiquiatra Dra. Lana Maria Pereira. “Podemos considerar a dependência química como um transtorno mental, já que ela está inserida no código internacional de doenças. Os dependentes químicos sofrem muito preconceito, pois acabam sendo vistos como ‘pessoas que não têm vergonha, não querem se tratar, não têm inteligência, causadoras de problemas’. Mas acredito que temos que pensar nisso como uma doença e, assim, lançar um novo olhar para o problema”, frisa a médica. “A pessoa tem uma dependência daquela substância. Muitas das vezes, essas pessoas tentam parar, mas não conseguem. É uma doença progressiva, que tem um caráter destrutivo, e envolve os familiares, além da sociedade em geral. A dependência química deixa sequelas físicas, porque a pessoa vai consumindo a substância e, em algum momento, vai começar a apresentar sintomas como doenças cardíacas, do fígado, alterações na glicose, hipertensão, alterações cerebrais, etc. Além disso, também existe o contexto psicológico, onde o indivíduo sente que precisa da droga para ter a satisfação. Na psiquiatria, sabemos que a dependência química é uma das doenças mais prevalentes. No caso do cigarro, por exemplo, sabe-se que o número de adultos dependentes está entre 30% e 35%. No caso do álcool, a prevalência é entre 18% entre os homens e 5,8% entre as mulheres”, exemplificou.

Dependência química: um debate importante
A médica psiquiatra Dra. Lana Maria

Outro ponto a ser considerado, segundo Dra. Lana, é que se trata de uma doença química, porque a dependência é provocada por uma reação química no metabolismo. “É importante ressaltar que, embora muitas pessoas separem o álcool da droga ilegal, ele é uma substância psicoativa tão importante e que causa dependência como qualquer outra droga. O álcool, por ser socialmente aceito, muitas vezes faz com que a pessoa comece a beber muito jovem e isso é um perigo, porque os fatores que levam à dependência química podem ter relação com predisposição genética, além de fatores externos, como pressão social, problemas familiares e profissionais e outras doenças psiquiátricas”, ressalta Dra. Lana.

A médica conclui falando sobre o tratamento da doença. “É uma doença crônica, incurável, mas pode ser tratada. Chamamos de dependente em recuperação. A partir do tratamento, é possível controlar essa dependência, que pode ser com medicação, pode ser só com terapia e, em alguns casos, com internação, para afastar o indivíduo dessa dependência. Com o tratamento correto, algumas pessoas podem viver a vida inteira sem ter mais problemas com a substância, por isso dizemos que é controlável. Mas é preciso ficar sempre de olho porque qualquer desequilíbrio emocional pode gerar uma recaída. É importante a gente entender que, por ser uma doença sem cura, precisa ser tratada muitas vezes com medicação, principalmente com terapia e grupos de apoio como o AA e o NA. Destaco ainda que as pessoas ao redor desse dependente sofrem muito também. Por isso é importante que essa família se trate, fazendo terapia e tratamentos psicoterápicos”.