Como está a sua Saúde Mental?

A médica Dra. Renata Pimentel

O excesso de informação contribui negativamente, causando pensamento acelerado, ansiedade, irritabilidade, entre outras reações negativas

Os problemas de saúde mental são reconhecidos como dos mais relevantes no contexto da saúde pública na atualidade. Dados da OMS revelam, por exemplo, que 5,6% da carga mundial de comorbidades estão relacionadas apenas à depressão. Segundo o Ministério da Saúde, 20% da população brasileira sofre com algum tipo de transtorno psiquiátrico. A fim de abordar o assunto, a reportagem do Mania de Saúde entrevistou a médica Dra. Renata Pimentel, Pós-Graduada em Psiquiatria e Pós-Graduanda em Psiquiatria Infantil. Fazendo parte do corpo clínico do Instituto Sinapse, em Itaperuna, ela traz uma excelente abordagem sobre os desafios enfrentados pela saúde mental no mundo de hoje – incluindo o público infantil. Confira!

Mania de Saúde – Hoje ainda há muita resistência do paciente em procurar ajuda médica e psiquiátrica para tratar de transtornos mentais. Por quê?

Dra. Renata Pimentel – Existe uma questão histórica e cultural que explica essa resistência. O modelo de tratamento nas décadas de 70 e 80, muito centralizado em hospitais, trouxe um estigma sobre o paciente e o tratamento psiquiátrico, sempre relacionado aos manicômios e às internações forçadas.

Como está a sua Saúde Mental?

Mania de Saúde – O que mudou no tratamento em Saúde Mental de lá para cá?

Dra. Renata Pimentel – Hoje a medicina é menos hospitalocêntrica e mais voltada à atenção primária, ao diagnóstico precoce e tratamento aos primeiros sintomas. Na psiquiatria não é diferente. Soma-se a isto a evolução da ciência psiquiátrica, dos tratamentos e a universalização do conhecimento. Há mais recursos ao alcance e mais informação disponível.

Mania de Saúde – Essa mudança aproxima o paciente psiquiátrico do médico e do seu tratamento?

Dra. Renata Pimentel – Definitivamente. Quando falo da universalização do conhecimento não me refiro apenas ao alcance do médico, mas da população em geral, que é mais informada e consegue identificar no próximo e até em si mesmo que algo não está indo bem. Prova disso é que 56% dos atendimentos nas Unidades de Atenção Primária estão relacionados à saúde mental.

Como está a sua Saúde Mental?
Com informação, os pais têm procurado orientação médica mais cedo

Mania de Saúde – Em crianças esse número também é crescente?

Dra. Renata Pimentel – Essa questão merece muita atenção, há dois prismas. O primeiro é o diagnóstico de transtornos antes ignorados, portanto, o aumento de casos é, na verdade, um aumento de casos identificados. O segundo é que nossas crianças também passaram a desenvolver, precocemente, transtornos característicos da vida adulta. O excesso de informação contribui negativamente nisso, causando pensamento acelerado, ansiedade, irritabilidade, entre outras reações negativas.

Mania de Saúde – O TDAH é um desses desdobramentos?

Dra. Renata Pimentel – Não exatamente, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade não é uma condição adquirida, ninguém “pega” ou “fica” TDAH, ela se enquadra mais na primeira análise dos dados. O que havia era uma subnotificação, a criança era tachada de problemática, avoada e até burra, sendo ignorada a condição mental e fisiológica que causava a desatenção e a hiperatividade.

Mania de Saúde – O TDAH representa hoje a maior demanda de pacientes infanto juvenil?

Dra. Renata Pimentel – Sim, primeiramente TDAH e em seguida TEA, que é o Transtorno do Espectro Autista, que não são transtornos exclusivos da infância e adolescência, mas com informação os pais têm procurado orientação médica cada vez mais cedo. Ao primeiro sinal de inquietação ou desatenção excessiva, dificuldade na comunicação, falta de contato visual ou dificuldade de socialização, os pais já procuram o médico.

Mania de Saúde – Algum conselho para os pais e mães que nos leem?

Dra. Renata Pimentel – Cuidar é um sintoma de amor. Todos, em algum momento da vida, precisam de cuidados médicos, ora para tratar uma infecção, ora para tratar uma fratura, ora para investigar uma dor, portanto, não menospreze a importância da ajuda médica quando a necessidade é mental.