Doença associada aos felinos é causada, na verdade, por um fungo
A esporotricose é uma micose subcutânea, subaguda ou crônica, causada por um fungo da família Sporothrix. Com distribuição universal, ela é mais prevalente em países de clima tropical e subtropical, sendo frequente em zonas rurais e em determinadas regiões. Até o final da década de 90, acometia basicamente jardineiros e agricultores. No entanto, a partir de 1998 houve um aumento no número de casos, atingindo a população em geral, se tornando uma doença de notificação compulsória em todo o estado do Rio de Janeiro.
Nossa reportagem conversou com a médica dermatologista Dra. Roberta Cesário, que detalha como ocorre a transmissão. “Ela acontece através da penetração do fungo na pele (derme) ou mucosa, por meio de traumatismo com objetos pontiagudos infectados (palha, farpa, espinho, arame) ou mordida/arranhadura de determinados animais (gatos e tatus). Não há transmissão de pessoa para pessoa, somente com contato com meios e animais. Assim como acontece com os cães, que podem adquirir a doença, mas apresentam boa imunidade ao fungo, não sendo capazes de transmitir. Nos gatos, as lesões são ricas em parasitas com sinais e sintomas mais graves, podendo progredir para a morte, devido à menor resistência natural à infecção e, por isso, transmitem a doença”.
Dra. Roberta prossegue explicando as fases clínicas da esporotricose. “Quando a resistência imunológica é alta, não há o desenvolvimento. Normalmente, a doença envolve primariamente a pele e, eventualmente, afeta também as mucosas e órgãos internos (pulmões, ossos e articulações em pacientes imunossuprimidos). O diagnóstico é feito com exame físico e histórico clínico e epidemiológico. É feito o isolamento do fungo obtido através de material apurado ou biópsia. É importante ressaltar que existe tratamento tanto para humanos quanto para os gatos. Na hora da consulta, é fundamental não esconder do médico o contato com o animal, que não deve ser abandonado, maltratado e muito menos sacrificado, mas sim tratado e isolado até a cura. Em caso extremo de óbito do animal, ele deve ser incinerado para evitar a recontaminação do solo. Sobre a prevenção: evitar exposição direta ao fungo, usar luvas e roupas de manga longa no manuseio de solo e plantas, calçados adequados para trabalhadores rurais, boa higienização do ambiente e observação do animal com visitas frequentes ao veterinário”.
FORMAS CLÍNICAS DA DOENÇA:
– Cutânea/Linfática: Surgimento de lesões que ulceram e invadem os vasos linfáticos regionais, ocasionando várias lesões no trajeto até o gânglio. Mais comum nos membros em adultos e na face em crianças.
– Cutânea localizada: Comum em pessoas com boa resistência, surgindo apenas pápula ou placa venosa com ou sem ulceração. Não atinge os vasos linfáticos e é mais comum na face.
– Disseminada: Associada à imunodepressão. A cutânea causa lesões múltiplas difusas na pele e é assintomática. A sistêmica acomete dois ou mais sistemas, causando febre e comprometimento no estado geral.
– Extracutânea: Ausência de lesões na pele, dificultando o diagnóstico. Associada à disseminação hematogênica, sendo mais comum nos ossos (joelho).