Quem já viu um animalzinho de estimação sofrendo com feridas na pele e espirros intermináveis talvez nem tenha se dado conta, mas o problema tinha um nome e era grave. Estamos falando da esporotricose, uma doença causada por fungos da família Sporothrix, que vem se alastrando nos últimos anos devido ao aumento da população animal. O perigo, contudo, não se restringe aos bichinhos: como alerta a Fiocruz, a esporotricose possui um alto potencial zoonótico, podendo ser transmitida entre animais e seres humanos, gerando assim uma grande preocupação de saúde pública.
Para abordar os riscos da esporotricose nos animais, nossa equipe de reportagem ouviu a médica veterinária Dra. Lina Goulart, da Procamp, que revela o modo de transmissão da doença. “A esporotricose é uma zoonose, ou seja, uma doença infectocontagiosa, que afeta os animais e os homens. Ela é transmitida pelo fungo Sporothrix. O Sporothrix Brasiliensis e o Sporothrix Schenckii são os que mais afetam aqui no Brasil. Esse fungo se caracteriza por ser geofílico, ou seja, ele gosta de ficar na terra (geo = terra). É um vírus que fica muito tempo no solo e se manifesta nos animais em forma de feridas melosas e feridas abertas, podendo afetar também os seios nasais. Ou seja: pode ter algum animal que não aparece com feridas, mas dá muitos espirros. Nesses casos, a gente coleta o material e encontra o Sporothrix ali dentro”, conta Dra. Lina, mencionando que os espirros, em geral, ocorrem muito em cães, embora a esporotricose tenha se notabilizado por atingir os felinos em geral.
Ainda assim, boa parte dos tutores não tem consciência do problema. “A grande maioria dos responsáveis não conhece o Sporothrix e ficam eles mesmos tratando aquelas feridas, usando pomadas e outros produtos. Já vi gente usando até própolis. Mas é uma ferida aberta, que dói muito. Os responsáveis ficam usando esses produtos em casa, não resolvem o problema e ainda geram o risco de acometer as pessoas da família. O mais correto é procurar o médico veterinário para fazer o exame e diagnosticar a esporotricose”, ressalta Dra. Lina.

Ela explica, também, o jeito certo de tratar a enfermidade. “No tratamento da esporotricose, a gente usa mais a medicação oral e ela tem que ser ministrada em uma dose muito correta. Existe um programa da Fiocruz em que eles já têm uma dose considerada até alta, mas é a mais eficiente para o tratamento, porque, se você for calcular pela bula, às vezes pode ser insuficiente. Existe hoje muita resistência porque o tutor inicia o tratamento, percebe uma melhora e aí interrompe o processo. Mas às vezes o fungo ainda está ali e as feridas voltam a acontecer. É preciso, então, que o tratamento seja muito bem feito, até você realizar o exame e não achar mais nada no animal”, informa Dra. Lina. “Lembrando também que a gente deve isolar esse animal, já que a doença contamina o solo, contamina os outros animais e pode contaminar os humanos também”.
Instituições como a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), como lembra Dra. Lina, oferecem programas de tratamento para pessoas de baixa renda. O mesmo ocorre no Rio de Janeiro, onde a Fiocruz realiza o diagnóstico e dá o medicamento aos tutores – e mesmo assim as pessoas não tratam os animais da forma adequada. “Por isso a gente vê tanta resistência em relação à esporotricose”, alerta Dra. Lina. “As pessoas dividem o comprimido com outro animal, às vezes acumulam muitos animais dentro de áreas pequenas e nem se atentam para a higienização e o ambiente em si. Ao ficar solto numa praça, por exemplo, o gato pode fazer cocô e o solo fica todo contaminado. Esse é um dos grandes problemas de deixar os animais soltos. A atenção deve ser sempre redobrada”.