Psicóloga alerta para os sinais de toxicidade de um relacionamento
A relação abusiva é um fenômeno histórico, que pode ser compreendido de diferentes modos dependendo do tempo vivido. Não há um padrão ideal de comportamento que seja apreendido como verdade universal. “Mas, a partir da minha experiência como psicoterapeuta no atendimento a mulheres em situação de violência, bem como das pesquisas ao longo desse tempo, posso dizer que há uma romantização nas relações, em que atitudes de dominação e opressão são interpretadas culturalmente como protetivas e como formas de expressar a intensidade do amor”, afirma a psicóloga e psicoterapeuta Nayara Chagas. “Isso pode tornar mais difícil a tarefa de identificar os abusos sofridos; compreendendo como relação abusiva qualquer relação amorosa em que prevaleça o poder de um sobre o outro, ocasionando diversos tipos de violências. Embora o relacionamento abusivo não se restrinja às relações heterossexuais, as estatísticas apontam que é nessa relação que os índices de abuso são mais altos, sendo a mulher a principal vítima”, prossegue a psicóloga.
Saber diferenciar cuidado de controle é a chave para identificar se um relacionamento é abusivo, de acordo com Nayara. “Se preocupar e perguntar se já chegou em casa ou se chegou bem depois de uma viagem é diferente de pedir provas de onde está, dos horários e com quem está. Ter senhas de aplicativos como forma de facilitar o dia a dia do casal é diferente de ser uma imposição e um meio para perseguir e controlar a vida do outro. Alguns exemplos de atitudes abusivas: tenta te convencer de que as suas amigas e/ou familiares não são boas influências, possibilitando que você se torne cada vez mais dependente dele; utiliza o que ele sabe sobre você para manipulá-la e chantageá-la; critica suas atitudes e comportamentos; não valida os seus sentimentos, fazendo com que você acredite que tudo o que pensa e sente é bobagem; demonstra que ele não é sempre gentil e amoroso porque você não merece, e dessa forma afirma que só ele vai aceitar esse seu jeito; ridiculariza as suas conquistas e te responsabiliza por todos os conflitos da relação. Ressalto que a pessoa que age desse modo é a mesma que faz declarações de amor, que é prestativa e, em muitos casos, bem quista pela família e amigos”, esclarece a profissional. “Não cheguei a citar a violência física, pois esta é facilmente identificada, é visível. Os exemplos acima são na maioria das vezes sutis, mas nem por isso menos violentos, e vão minando a autoestima a ponto de a pessoa acreditar em tudo que é dito sobre ela, sentindo-se frequentemente culpada. Há diversos motivos para as mulheres permanecerem em uma relação em que não são valorizadas, um deles é o julgamento social de que se o relacionamento acabar o fracasso é delas, o problema está com elas, já que foi estabelecido que cabe a elas desenvolver habilidades emocionais para lidar com os conflitos. Quem nunca ouviu que as mulheres amadurecem mais rápido? Há uma complacência social com os erros dos homens, que não acontece com as mulheres. Há um repertório de culpa sobre os ombros das mulheres, que têm sua existência sequestrada e tutelada em nome de um projeto existencial idealizado. Por fim, quero dizer que é fundamental não acomodar o que te incomoda. Em qualquer relação há conflitos e discordâncias, e o casal precisa estar disposto a dialogar e fazer acordos que respeitem a individualidade de ambos; se isso não acontece, uma escolha se faz necessária: se perder do outro ou se perder de si”, finaliza Nayara.