“A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um relatório onde mantém a proibição da venda dos dispositivos eletrônicos fumáveis (DEFs), os famosos cigarros eletrônicos ou vapes. Os DEFs têm aspecto moderno, cores vivas e sabores artificiais para conquistar consumidores, mas não se engane: eles trazem riscos semelhantes ou até maiores à saúde que outras formas de uso do tabaco”. Quem nos faz esse alerta é o Dr. Gleison Guimarães, Médico Especialista em Pneumologia pela UFRJ e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e Especialista em Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS).
Com vasta experiência na área, ele ressalta por que os cigarros eletrônicos causam tanta preocupação à saúde. “Estudos científicos mostram que o uso dos DEFs, tanto agudo como crônico, está diretamente ligado ao surgimento de várias doenças respiratórias, cardiovasculares, gastrointestinais, orais, entre outras, além de causar dependência e estimular o uso dos cigarros convencionais. Os fumantes de DEFs têm duas a quatro vezes mais chances de virarem fumantes de cigarros convencionais no futuro. Além disso, fumar cigarro eletrônico aumenta em cinco vezes a chance de o jovem ou adolescente se tornar usuário de maconha”, informa o médico. “Já o tabagismo passivo do cigarro eletrônico aumentou o risco de sintomas de bronquite em 40% e falta de ar em 53% entre adultos jovens, segundo estudo prospectivo feito no Southern California Children Health Study. Isso reforça a gravidade do uso dos DEFs”.
Dr. Gleison Guimarães sabe do que está falando. Afinal, ele tem visto de perto essa realidade em seu consultório. “A cada dia tenho recebido mais pessoas com problemas pelo uso dos vapes e dois pacientes me impactaram muito recentemente. O primeiro tem 16 anos e vinha fumando DEF há pouco mais de cinco meses. Ele apresentava tremor de mãos, unhas roídas, seguia levando os dedos à boca, tinha pensamento acelerado e extremamente ansioso. Chegou a usar uma média de 40 mg de nicotina por dia, pelo cálculo de inalações feito em seu DEF, que durava em média quatro a cinco dias até recarregar novamente. Ele usava uma forma de liberação de nicotina em forma de sal, capaz de atingir rapidamente a corrente sanguínea e os receptores de nicotina cerebrais, gerando a sensação de prazer semelhante aos cigarros de combustão, mas com uma carga de nicotina comparada com 40 cigarros tradicionais por dia. O tratamento, que se perpetua bem, sem lapsos nem recaídas, se iniciou com uma medicação oral de controle, bem como nicotina em goma e em adesivo sobre a pele. Até a última vez que nos falamos, ele já estava sem medicações há mais de três meses”.
A outra paciente, contudo, impressionou ainda mais o médico. “Ela estava usando um DEF com aroma de lichia e antes usava cigarros comuns. Vinha com tosse seca relacionada a esforço e um desconforto no peito que parecia uma dificuldade para respirar. Contou-me que estava estranhando a necessidade de usar cada vez mais a substância, bem diferente de quando usava os cigarros de combustão. Fizemos o cálculo da dose de nicotina diária consumida e chegamos a 60 mg. Estimando que um cigarro tem 1 mg de nicotina, era como se estivesse em uso cerca de 60 cigarros por dia. Quando falei isso para ela, deu um pulo da cadeira e exclamou: ‘Como pode? Por isso que estou viciada, não consigo parar de usar’. Ela tinha interrompido o tabagismo comigo dois anos antes, mas teve essa recaída com o DEF que experimentou com o esposo. A dependência, porém, se estabeleceu mais intensamente no processo de divórcio que vinha enfrentando”, revelou Dr. Gleison. “Com ela, o processo terapêutico foi mais fácil. Ajustamos a reposição de nicotina em patch e uma medicação oral que também a ajudaria no processo que vinha passando em sua vida pessoal. Nos vimos novamente em sua fase de manutenção, com melhora da tosse seca irritativa e sem o DEF. A tomografia não mostrava lesão pulmonar aguda relacionada ao uso do e-cigarro, mas a Pletismografia com difusão revelava redução da troca gasosa e expressei a minha preocupação com o fato de não se decidir avançar na cessação da substância. Já tinha provável lesão tecidual pulmonar que a tomografia não foi capaz de identificar. Ainda não repetimos o exame de função pulmonar aqui na clínica. Estou aguardando um tempo maior de atividade física e ajuste dos seus hábitos de saúde”.
Em suas redes sociais, Dr. Gleison está sempre alertando contra os DEFs. “Impressiona-me o vulto e a gravidade da dependência que tenho visto. Teremos sérios problemas de saúde e muitos casos de EVALI – a lesão pulmonar induzida pelos e-cigarros, doença pulmonar bilateral e que até se parece com aquelas formas graves da COVID-19 que víamos no início da pandemia. Desastre anunciado. Mas sigamos, pois a luta está apenas começando”, finalizou o médico, que deu mais detalhes do uso do vape em nosso site. Confira!
Dr. Gleison Guimarães, Médico Especialista em Pneumologia e Medicina do Sono