Você com certeza já deve ter notado que os pais de hoje parecem ser ainda mais zelosos do que antigamente. Mas não poderia ser de outra forma. Se em 1960 o Brasil registrava uma taxa de fecundidade de 6,3 filhos por mulher, hoje esse número é de 1,6, bem abaixo da média mundial, que é de 2,3. Isso significa que ter filhos virou algo cada vez mais raro na vida dos casais, tornando-se natural, então, oferecer um cuidado ainda maior às crianças em comparação com outras épocas.
Mas a verdade é que não basta adquirir vaga na melhor escola da cidade, incentivar a prática esportiva desde cedo ou garantir o acesso à tecnologia para dar conforto às crianças. Outro item essencial nesse contexto é o acompanhamento pediátrico. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, a visita ao pediatra é recomendada até os 16 anos, não apenas para prevenir ou tratar doenças, mas para acompanhar todo o processo de formação da criança, abordando o desenvolvimento das habilidades cognitivas e motoras, os hábitos alimentares e comportamentais, além da própria vacinação, que ganhou uma importância ainda maior em tempos pós-pandemia.
“Minha experiência profissional no consultório indica que a maioria dos pais tem, sim, consciência do acompanhamento pediátrico, mas, nos atendimentos que realizei em emergências pediátricas, pude perceber que, à medida que a criança vai crescendo, as consultas de rotina vão diminuindo e vão sendo substituídas por ‘consultas de emergência’”, afirma a médica pediatra e infectologista Dra. Laura Machado. “Ou seja: alguns cuidadores procuram o pediatra e/ou a emergência pediátrica, em sua maior parte, para relatar alguma queixa específica e não tanto para fins de prevenção”, acrescentou.
Um dos erros mais comuns, nesse contexto, é naturalizar situações ou desconhecer sintomas que exigiriam avaliação profissional. “É sabido que as consultas de rotina são fundamentais em muitos aspectos, pois são capazes de atuar na prevenção, na avaliação do desenvolvimento, na orientação sobre vacinas, alimentação, exames rotineiros ou direcionados para investigação diagnóstica quando necessários. Isso demonstra a importância do vínculo entre o pediatra e as famílias, que é essencial para garantir um melhor desenvolvimento à criança”, ressaltou Dra. Laura. “Em minha prática médica, procuro sempre identificar o contexto em que ela está inserida, pois muitas vezes o tratamento da doença está diretamente relacionado àquele ambiente familiar. Além disso, como médica assistente, vejo ser necessário manter uma relação próxima, o que possibilita uma maior disponibilidade para o cuidado com a criança. Dessa forma, a consulta pediátrica de rotina se torna essencial para solucionar tantos as queixas de emergência quanto para atuar na prevenção de doenças e no bem-estar das famílias”, complementa a médica.
Com vasta experiência no atendimento público e privado, ela comenta um pouco sobre sua trajetória, que exemplifica a importância da atuação do pediatra em nosso contexto de saúde. “Em 2006 eu me mudei para o Rio de Janeiro para cursar medicina e, em 2013, iniciei a residência de pediatria geral no Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, tendo feito o terceiro ano de residência médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ), quando foquei meus estudos em atendimentos de ambulatório e enfermaria pediátrica. Em 2017, iniciei a pós-graduação em infectologia pediátrica no Instituto Fernandes Figueira, especialidade pela qual me apaixonei e considero essencial para minha prática diária. Além disso, cursei dois anos de mestrado acadêmico em saúde da criança pelo mesmo Instituto, onde também trabalhei como infectologista pediátrica. Tive ainda a oportunidade de atuar em hospitais particulares do Rio de Janeiro, como o Hospital Vitória e hospitais da Rede D’Or e, desde o ano de 2016, atendo pacientes em consultório particular, tendo voltado em 2022 para Campos dos Goytacazes, minha cidade natal, onde, além das atividades em consultório, trabalho como infectologista pediátrica no SUS, um trabalho que me engrandece todos os dias como profissional, além de atuar na prática como professora de alunos de medicina. Tudo isso com o objetivo de estar sempre me aprimorando na área para oferecer um cuidado ainda maior aos pacientes, a fim de garantir saúde e qualidade de vida a todos”.