VOCÊ TEM SEDE

Você tem sede?A sede é uma das sensações mais básicas e instintivas do ser humano. Basta que ela apareça para logo oferecermos ao organismo aquilo que ele está precisando: água. Mas existe um outro tipo de sede pela qual seu corpo muitas vezes clama e você nem sempre consegue identificar com tanta precisão. Ou pior: quando identifica, não sabe muito bem como agir. Você sabe de qual sede estamos falando?

Quem nos responde é o médico cardiologista Dr. Rafael Chácar. “Atualmente, vemos muitas pessoas se conscientizando do quanto é importante cuidar da própria saúde para garantir um envelhecimento mais saudável. Afinal, segundo a OMS, a inatividade física é uma das principais causas de doenças crônicas não transmissíveis, respondendo por 75% das mortes no Brasil. Isso mostra que o combate ao sedentarismo não é uma opção, mas uma necessidade de todos nós”, afirma o médico, chamando a atenção para a sigla SEDE, que compreende Sono, Exercícios, Dieta e Estresse, fatores que devem ser trabalhados para proporcionar uma melhor qualidade de vida a qualquer indivíduo, mesmo que ele possua alguma comorbidade. “Afinal, saúde não se restringe a remédio. O melhor remédio é saciar essa SEDE”, ressaltou.

O alerta feito por Dr. Rafael Chácar tem respaldo na ciência. Um estudo publicado pela revista Scientific Reports, nos Estados Unidos, por exemplo, atestou que o sono de má qualidade é prejudicial à saúde do coração, podendo elevar o risco de doença cardíaca em até 141%. Já uma pesquisa feita pela Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, também nos EUA, apontou que o estresse pode levar ao infarto, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.

Trabalhar o conceito de SEDE, então, pode mudar essa realidade, além de ter uma relevância enorme no Brasil, onde ainda predomina o uso de medicamentos. “Está arraigada na população a ideia de que o remédio é suficiente para tratar uma doença. Muitas pessoas chegam a rejeitar o tratamento, pois não conseguem aderir à terapia, além de estarem sedentárias e obesas. Isso cria um cenário desafiador, porque o remédio, sozinho, não basta. Embora tenha uma relevância enorme, ele não pode ser o carro-chefe do tratamento. É necessário olhar o conjunto da obra”, diz o especialista.

Dr. Rafael, inclusive, é um dos que aderiram a esse cuidado. “Venho de uma família de cardiopatas e muitos dos meus familiares tiveram morte súbita. Isso me acendeu o sinal de alerta. Passei a combater os fatores externos para não agravar o risco genético que provavelmente já existe em mim. E, por ver na prática os benefícios desse cuidado, trabalho para que meus pacientes também se cuidem e tenham mais saúde. Essa, aliás, é a minha grande missão”, disse.

Dr. Rafael lembra, nesse contexto, a importância de uma cardiologia cada vez mais moderna, onde a ideia não é tratar uma doença, mas cuidar do paciente como um todo. “Esse é o grande benefício, por exemplo, da reabilitação cardíaca, que tira o indivíduo do sedentarismo mesmo que ele possua alguma comorbidade. Ele sai de um estado de debilidade para tornar-se um indivíduo ativo, desenvolvendo confiança e autonomia, por meio de uma sala de performance inteiramente estruturada para atendê-lo, promovendo saúde e qualidade de vida a qualquer indivíduo”, destacou.

Especialista em Ergometria e Reabilitação Cardíaca, ele lembra outro caso de atuação inovadora: a cardiologia oncológica. “Hoje faço uma especialidade chamada cardio-oncologia, que ainda é pouco conhecida, mas consegue oferecer um cuidado ainda maior ao paciente. Afinal, muitas drogas que fazem parte da classe dos quimioterápicos hoje são consideradas cardiotóxicas, podendo se manifestar até 10 anos depois do tratamento. Sendo assim, por que não passar esse paciente por um screening cardiológico? Será que os profissionais estão cientes desse problema? Foi isso que levou a Sociedade Brasileira de Cardiologia a promover essa nova modalidade de ensino médico, que é realmente inovadora. Estou muito satisfeito com o curso. Ele é mais um exemplo de como devemos buscar alternativas para oferecer o máximo de cuidado ao paciente, garantindo assim uma melhor qualidade de vida à população”.