Outubro é o mês de homenagear duas profissões que são fundamentais para a nossa sociedade. É quando comemoramos o Dia do Médico e o Dia do Professor. Para falar sobre o assunto, convidamos alguém que tem essas duas profissões como alicerces da sua vida profissional: o médico e professor de medicina Dr. Cláudio Cola.
Ele afirma que, dentre as várias semelhanças existentes nestes dois contextos, há uma especial e determinante, que deve ser o cerne da atuação do médico que ousa também ensinar. “Não esquecer que é um formador de gente que vai zelar, tratar, cuidar de gente. Na mesma medida que esse é o maior desafio, se torna também o maior encanto e a maior paixão, mas deve ser encarado também como a única recompensa ou reconhecimento que se terá, porque assim como infelizmente ocorre com todos aqueles que ensinam, o respeito e uma remuneração adequada há muito se perderam no tempo. Com certeza, sem a paixão pela medicina e o exemplo da dedicação herdado por ser filho de professores, não seria possível completar quase 30 anos de atuação nesta seara do ensino médico, porque são muitas, e cada vez maiores, as dificuldades, travestidas de modernidades, que se apresentam no caminho daquele dever de ensinar uma arte e não simplesmente uma profissão, sem nenhum demérito às demais carreiras”, frisa Dr. Cláudio.
Ele destaca como se portar diante dessa realidade. “Quando se chega ao fim do ensino médio, trazendo toda a importância que o professor teve nessa caminhada, só aqueles que escolhem uma das profissões das ciências médicas terão, como seu material de trabalho, o ser humano, naquilo que envolve os contextos de vida, saúde e doença, ou seja, nesse cenário, não basta apenas ensinar a técnica da identificação da doença e da promoção da saúde, mas é preciso também passar, contagiar, emocionar e, porque não, contaminar o aluno com a essência da arte médica, que é nunca esquecer que o seu paciente é um, não vários; tem um nome, não número; tem história, não uma lista de componentes; tem família, e não um perfil de dados e, por fim, tem sentimentos e não é um objeto. Ser médico, além do domínio de técnica, exige ter essa visão diferenciada. Então, o ensinar da arte médica passa por essas duas vertentes, porque se só a técnica foi ensinada, o aluno pode até ter aprendido e ter sido informado, mas só quando o aluno é encantado com a alma do procedimento e de como este vai beneficiar o seu paciente é que ele apreende e é formado a partir da incorporação do sentido do bem maior na sua prática diária. Essa diferença entre aprender/apreender e informar/formar é que constrói um médico e é uma atribuição exclusiva e deve ser o único modelo de atuação daquele que, mais do que ensinar o que faz, deve ensinar como ser”.
O médico e professor faz ainda uma avaliação sobre o ensino médico atual. “Lamentavelmente, o ensino médico particular se tornou uma das áreas de maior retorno financeiro, ocasionando o surgimento de novas e a incorporação de antigas instituições de ensino que, trazendo a proposta de modernização, emprego de metodologias de ensino e outros ‘recursos’, reduziram o número de horas aulas, implantaram o uso de plataformas digitais de ensino e deturparam o conceito de tutor, distanciando o aluno do contato pessoal com aquele que ensina e, consequentemente, valoriza a informação em detrimento da formação, o que, com certeza, gera profissionais dessensibilizados. Hoje, turmas de mais de 100 alunos rodam por laboratórios e assistem aulas, em um universo antes inimaginável de recursos tecnológicos, aprendendo e experimentando tudo o que há de mais moderno com mídias e plataformas de última geração, mas essa manipulação das metodologias ativas de conhecimento em benefício próprio distanciam o aluno do professor, o que favorece que, no futuro, o médico também se distancie do paciente. Mas, neste mês, quero deixar os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que, acima de tudo, me ensinaram o sentido da arte médica, e assim me formaram no sentido literal da palavra, mas fica também, para os meus alunos, o meu renovado compromisso que sempre foi, e sempre será, o de contribuir da mesma forma para a formação de todos”.