Criança também tem ansiedade

Criança também tem ansiedadePais, fiquem de olho: Conversar com seu filho é fundamental!

Já se tornou lugar-comum dizer que o mundo virou de cabeça para baixo depois da pandemia da Covid-19. Mas você já parou para pensar que, se para nós adultos está sendo difícil voltar à rotina, para as crianças pode estar sendo ainda mais complicado? Afinal, foram dois anos em casa, sem convívio com colegas, professores e até mesmo familiares. A ansiedade, portanto, está presente em muitas crianças, o que exige maior atenção dos pais e responsáveis.

É o que nos conta a psicóloga Mariana Ferreira. “Os reflexos da pandemia estão sendo vistos agora nas crianças. Enquanto elas estavam em casa, as coisas estavam mais sob controle, com os pais mais presentes. Entretanto, com a volta da rotina da escola, isso mudou. As crianças ficaram dois anos reclusas, sem contato com outras crianças e este retorno tem sido assustador para muitas delas. Cada uma manifesta essa ansiedade de uma forma diferente, assim como os adultos. Podem ocorrer alterações na alimentação, no sono, não querer ficar na escola, rejeitar o convívio social, palpitações, taquicardia, sudorese, choro excessivo, tremores. Isso se reflete no corpo”, afirma a psicóloga.

Segundo ela, os pais precisam ficar atentos para não confundir as crises de ansiedade com birra. “Isso porque as crianças não sabem expressar de forma clara o que elas estão sentindo. Muitos adultos têm essa dificuldade, de verbalizar os sentimentos, quanto mais as crianças. Às vezes ela está angustiada, não sabe com o que e chora. Não sabe porque está sofrendo”.

Mariana alerta ainda para os sinais de que é preciso procurar ajuda. “O primeiro sinal de alerta é quando os próprios pais não conseguem lidar com a situação. Quando a criança está indo para a escola e não consegue ficar ou tem problemas de relacionamento. Esses são sinais de que é preciso ajuda. Mas quero ressaltar que é preciso criar um ambiente seguro em casa para essa criança. Ouvi-la. Dar a possibilidade de que ela expresse o que ela sente, seja através do choro, da birra, do se calar, do se agitar. Escutar o que a criança está transmitindo para o adulto. E, junto a isso, falar com ela, dar palavras, ferramentas que possibilitem a esse pequeno entender e dizer o que está sentindo. Essa troca de escuta e fala apazígua os sentimentos”.

Criança também tem ansiedade
A psicóloga
Mariana
Ferreira

A psicóloga termina falando sobre como a terapia pode ajudar nestes casos de ansiedade. “A própria vinda ao consultório eu vejo como um grande passo, pois já mostra uma escuta. Revela que os pais estão atentos aos sinais que a criança está demonstrando. Eu aposto sempre na palavra. Aqui, nós vamos fazendo uma espécie de retrospectiva, para cada caso uma forma de lidar. A partir daí, muitas vezes os próprios pais começam a entender uma série de coisas que não haviam percebido. A gente costuma dizer que a criança é reflexo da família. Tanto para as coisas boas, quanto para as não tão boas. E, quando digo que a gente projeta coisas nas crianças, não são só as coisas ruins. Porque, quando nasce um bebê, ele precisa de cuidados para sobreviver. Então, desde esse momento, estamos nos projetando nele. A atenção, o afeto, o amor, os cuidados. Mas também alguns aspectos que não são tão favoráveis ao psiquismo. Por isso é importante que os pais estejam com a saúde mental equilibrada, até para perceber as alterações dos filhos. E, finalmente, manter o diálogo com a escola. É lá, muitas vezes, que os filhos passam a maior parte do dia. Então, converse com os professores, com a direção. Isso vai ajudar muito quando for preciso tratar a ansiedade do seu filho”.