A pandemia da Covid-19 transformou a vida de pessoas do mundo inteiro. Tanto que reduziu o número de diagnósticos cardíacos em toda a América Latina em comparação com a Europa e os EUA, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Isso torna o cenário pós-pandemia ainda mais complexo e desafiador para os profissionais de saúde.
O médico cardiologista Dr. Rafael Chácar é um dos que sentem na pele essa realidade. “A Covid-19 impactou o acompanhamento dos mais variados pacientes. Só agora, por exemplo, as pessoas começam a retomar suas atividades habituais, incluindo a ida ao médico. Mas isso acaba se tornando um desafio enorme, porque muitos pacientes se encontram hoje em um quadro mais debilitado, exigindo uma atenção muito maior para seu estado de saúde”, disse.
Especialista em Ergometria e em Reabilitação Cardíaca, Dr. Rafael revela que a atuação nessa área foi ainda mais impactada pela pandemia. “A consulta cardiológica convencional você faz no consultório com o paciente. Mas um trabalho de reabilitação cardiopulmonar é diferente. Ele é realizado em um espaço físico próprio e com um número maior de pessoas, já que envolve atividade física. Por isso essa área acabou sendo mais impactada, gerando enorme repercussão à saúde das pessoas”, ressalta o médico. “Afinal, a gente recebe muitos pacientes graves, que passaram por problemas delicados e perderam aquilo que chamamos de capacidade funcional. São pessoas para as quais a reabilitação cardíaca funciona como um remédio. Daí a importância de retomar as atividades o quanto antes”, complementou.
O médico lembra, contudo, que essa atuação não está voltada somente para pacientes com alguma doença cardiovascular ou que sofreram um infarto. Ela pode – e deve – ir muito além, sendo um auxílio importante para pessoas obesas ou sedentárias. “O sedentarismo é o grande vilão da nossa saúde e gera altos índices de mortalidade. Existem dados relevantes mostrando, por exemplo, que é preferível ser um cardiopata ativo do que um sedentário obeso. É nesse contexto que a reabilitação cardiometabólica faz toda a diferença, trazendo grandes benefícios à saúde e à qualidade de vida de cada indivíduo”, destaca Dr. Rafael.
Para quem desconhece o serviço, ele explica como funciona. “Na reabilitação cardiovascular, pulmonar e metabólica, fazemos uma avaliação completa do paciente e do seu histórico de saúde. Em seguida, iniciamos uma rotina de atividade física, por meio de aparelhos que foram criados especificamente para reabilitar esse paciente, sempre sob monitoramento médico, junto a um profissional de educação física. Nós acompanhamos o indivíduo o tempo inteiro, fazendo os ajustes necessários para melhorar sua capacidade funcional e devolver a autonomia. Isso garante uma melhor qualidade de vida não só a essas pessoas, mas a todos aqueles que desejam sair do sedentarismo com maior segurança”, disse.
Segundo Dr. Rafael, essa atuação vem trazendo um novo olhar para a cardiologia, priorizando a atividade física em vez de um tratamento meramente medicamentoso. “Cada vez mais a nossa cardiologia precisa avançar, e o avanço, com certeza, é a cardiologia do exercício. Já está comprovado que a atividade física traz melhoras expressivas à saúde física e mental, proporcionando ganhos enormes ao paciente. Ele sai de um estado debilitado para tornar-se um indivíduo ativo, com mais autonomia e qualidade de vida, demonstrando como a reabilitação cardíaca é capaz de transformar, para melhor, a vida da população”.