Como a psicologia pode contribuir com o trabalho fisioterápico
A psicologia muitas vezes é compreendida como uma ciência que trabalha com a mente e com as emoções, como se o corpo não fizesse parte deste campo de investigação e trabalho. Entretanto, nosso corpo não é apenas orgânico e fisiológico, mas também um corpo que carrega nossa história de vida. É bastante comum, por exemplo, o paciente chegar à clínica de Fisioterapia com muitas demandas psíquicas, por conta de somatizações (sofrimento psicológico que se expressa por dores físicas sem haver necessariamente comprovação material de patologia). “Por isso é muito gratificante e desafiador, para mim, trabalhar como uma equipe multidisciplinar junto às Fisioterapeutas da clínica Fisio Mais. Juntas, conseguimos observar a necessidade dos pacientes”, afirma Dra. Elisângela Mesquita, psicóloga da Clínica Fisio Mais, que é gerenciada pela fisioterapeuta Dra. Gleicy Faria.
É comum também que alguns pacientes, com dores crônicas ou agudas severas, comecem a se queixar diante do fisioterapeuta, das suas ansiedades, do quadro doentio que não se resolve com as intervenções experimentadas, consultas a especialistas, várias medicações e fisioterapia. “Isto porque cada um de nós é um ser integrado; os aspectos emocionais e os somáticos. Como muitas vezes também em meu consultório percebo que toda a somatização que esse paciente carrega o deixa muito tenso, e que acaba lhe trazendo muitas dores corporais, e eu o encaminho a um profissional de fisioterapia para aliviar as suas dores corporais. Ocorre, por exemplo, que durante o atendimento com o fisioterapeuta, este paciente queira ou precise falar mais de sua conturbada relação com algum familiar, do que propriamente sobre a dor do membro ou região corporal que o levou até o consultório de fisioterapia. E, por mais que o fisioterapeuta queira intervir com seus conhecimentos e ferramentas de trabalho o quanto antes, torna-se necessário primeiro acolher esta dor emocional, esta fala, pois isto pode ser mais terapêutico naquele momento para o paciente do que a própria intervenção psicológica. A partir desse primeiro acolhimento e uma conversa com o paciente é indicado a ele procurar a ajuda psicológica”, afirma Dra. Elisângela.
E, para lidar com demandas desta ordem, o fisioterapeuta e o psicólogo dependem, muitas vezes, apenas de seu bom senso, podendo sentir-se um pouco deslocado em seu papel de deter ferramentas que atuem eficazmente no físico e no psíquico, embora este paciente traga estas duas questões entrelaçadas em uma primeira queixa que é, quase sempre, física-corporal. “Entendemos, portanto, que estas queixas e sintomas são manifestações psíquicas que aparecem concretamente no corpo e que precisam ser trazidas do inconsciente para a consciência. É muito satisfatório quando o paciente aceita o encaminhamento do fisioterapeuta para buscar a psicoterapeuta, pois, sob o seu ponto de vista, sua dor é tão somente física. Isto ocorre tanto por preconceito, pois a busca por atendimento psicológico ainda é vista como ‘fraqueza ou fracasso’ frente às dificuldades, ou sinal de ‘loucura’; como por resistência, pois todos nós evitamos em algum momento olharmos para dentro e reconhecermos quem somos”.
A psicoterapia é, na verdade, uma caminhada íntima, profunda e singular que o paciente se dispõe a fazer acompanhado pelo psicoterapeuta. Uma caminhada de conscientização e fortalecimento pessoal, em busca de maior autonomia e saúde. Deste modo, faz-se imprescindível considerarmos a complexidade de cada pessoa, que pode trazer em sua queixa objetiva um pedido de escuta/olhar e ajuda subjetiva. E, quando as queixas físicas trazem demandas inconscientes, fisioterapia e psicologia podem trabalhar juntamente.