Como escolher um antisséptico?

Tratamento de feridas não deve ser sinônimo de ardência

Como escolher um antisséptico?
A enfermeira Dra. Angela Amaral, responsável pela loja Só Pele

Alguns leitores vão se lembrar: bastava um machucado na nossa infância e lá vinha nossa mãe com o temido Merthiolate em mãos. Era certeza de uma ardência imediata. Mas, desde 2001, o Ministério da Saúde proibiu a comercialização de medicamentos que tivessem tiormesal e mercúrio, componentes da fórmula do Merthiolate. Somados a esses, o medicamento tinha uma grande quantidade de álcool, o que aumentava muito o potencial de ardência. Diante deste cenário, foi necessária a criação de uma nova fórmula que, segundo a fabricante, além de ser mais eficiente, também deixou de arder.

Bom para a garotada que a ciência tenha evoluído e que agora não se precise mais lidar com a dor do machucado em si, somada à ardência do remédio. Mas então como escolher um antisséptico correto? Nossa reportagem conversou com a enfermeira Dra. Angela Amaral, responsável pela loja Só Pele, especializada em curativos, que explica a maneira ideal de lidar com o produto. “Muitas vezes temos dificuldades em explicar ao paciente a diferença entre um produto com ação antisséptica ou antibiótica, se as duas têm a função de eliminar bactérias ou inibir sua proliferação. Uma diferença prática entre antibióticos e antissépticos é que os primeiros têm uso sistêmico (são ingeridos, injetados, administrados de modo que sejam absorvidos e atuem dentro do nosso organismo) e os segundos, uso tópico (são aplicados na parte externa do corpo, como pele, mucosa da boca, etc.). No tratamento de feridas, usamos soluções antissépticas a cada troca de curativo com a finalidade de preparar o leito da lesão para receber a melhor cobertura. Em comparação com os antissépticos utilizados há bem pouco tempo, usamos hoje soluções infinitamente menos agressivas se comparadas com água oxigenada, polivinilpirrolidonas (povidine), líquido de Dakin, dentre outras; todas essas extremamente citotóxicas e que, quando usadas sequencialmente a cada troca, retarda a cicatrização”.

Como escolher um antisséptico?Mas então qual é o antisséptico ideal? Dra. Angela responde. “Aquele que é agressivo apenas para os micro-organismos (bactérias, fungos, etc.), e não para as células que precisam se proliferar e promover a cicatrização da lesão. As soluções que têm em sua composição o PHMB (polihexametileno de biguanida a 0,1%). Um exemplo é o Polihexam, que tem ação de descontaminação, hidratação e remoção de biofilme (uma camada que se forma no leito da lesão, que apesar de não ser visível a olho nu, é um dos maiores vilões do processo de proliferação e crescimento celular). Ele é um potente antimicrobiano com amplo espectro de ação (mata bactérias, fungos e leveduras). Esta solução tem ação residual e diminui odores desagradáveis e o exsudato (secreções), possuindo ainda algumas características que só potencializam as vantagens já expostas: não agride as células em crescimento, é hipoalergênico, não arde no leito da ferida e elimina o biofilme”, finaliza.