(*) Sthevo Damaceno é jornalista e
editor do jornal Mania de Saúde.
sthevodamaceno@maniadesaude.com.br

Em um de seus melhores textos, Fernando Sabino revelava a Otto Lara Resende que, enfim, a maturidade batera à porta. Tendo indo morar em Nova York, com a cara e a coragem, recém-casado e abrindo mão de grandes facilidades no Brasil, o pacato mineiro de repente se viu na maior metrópole do mundo, tendo que sobreviver na cidade onde transitavam “oito milhões de solitários”, ganhando a vida com o jornalismo e a literatura, longe da família e dos amigos.
Mas o que mais impressionava Fernando era a forma como passara a vislumbrar a figura real do outro, em toda sua complexidade e inteireza, sem as presunções e reducionismos que costumam nortear o convívio humano. À distância, o autor de “O Encontro Marcado” esmiuçara as idiossincrasias dos amigos, perscrutando defeitos e qualidades, como que despindo sua rede de afetos de qualquer traço de maniqueísmo ou mistificação.
A franqueza do escritor é o que me vem agora, ao lembrar de Sylvio Muniz, fundador do nosso mensário. Passados seis anos de sua morte, fica mais nítido, para mim, aquele fenômeno descrito por Fernando, quando todos os fragmentos da personalidade do outro se adensam em um todo único, como um quebra-cabeça que, enfim, se completa. Aquilo que antes parecia um mero dado particular ganha, agora, nova dimensão e amplitude.
Poderia passar horas dando exemplos, tanto na esfera pessoal, quanto na profissional, mas talvez aquele que mais se destaque seja a preocupação que Sylvio tinha com a ética junto aos anunciantes e ao público leitor. Era comum, por exemplo, vê-lo atravessar as madrugadas trabalhando no afã de descobrir o meio mais adequado de veicular determinado anúncio ou matéria, como muitas vezes pude ver na redação. O interessante é que não se tratava apenas de profissionalismo em seu mais alto grau de comprometimento, como à primeira vista poderia se pensar: era, acima de tudo, um objetivo de vida. Sylvio era assim por inteiro.
Aliás, não foi uma nem duas vezes que, ao passar em sua sala, logo pela manhã, notava a presença de diferentes profissionais à espera dele, buscando firmar algum tipo de parceria com o jornal. Mas logo notava Sylvio preocupado, hesitante. Já no final da tarde, quando subia à redação, ele contava o que havia decidido: não fechara negócio, pois não reunira dados suficientes para atestar a credibilidade daquele profissional ou empresa frente ao mercado. Sua preocupação era, sempre, o respeito perante o público.
Dentro de um meio onde muitas vezes o dinheiro parece falar mais alto, Sylvio demonstrava, através de gestos como esse, que a nossa atuação não se destinava apenas à busca pelo lucro – embora ele fosse necessário – mas sim ao zelo pela ética jornalística e publicitária, que sempre foi o sustentáculo da credibilidade alcançada pelo Mania de Saúde em nossa região. Ninguém se torna o primeiro e maior mensário de marketing médico do interior do Rio de Janeiro por acaso, não é mesmo?
Isso, sem dúvidas, é o que explica todo o carinho que recebemos a cada edição por parte dos nossos leitores, amigos e clientes, que comprovam a qualidade tão buscada pelo nosso fundador, hoje tão enraizada em nossos 31 anos de existência. Sylvio estava certo: o Mania de Saúde não é apenas um jornal. É uma família. Para a qual daremos, sempre, o nosso melhor.