A descoberta da sexualidade

A psicóloga Noísa Rangel

A psicóloga Noísa Rangel
A psicóloga Noísa Rangel

A vida é feita de ciclos e é importante que possamos vivenciar todos eles de maneira segura e com apoio, seja dos pais, amigos ou de ajuda profissional. Quando a criança começa a descobrir a sua própria sexualidade, muitos pais ficam de cabelo em pé, sem saber como lidar com a situação. Por isso, nossa reportagem conversou com a psicóloga Noísa Rangel, que aborda os principais aspectos desta questão tão delicada.

Mania de Saúde – Muitos pais se assustam com os primeiros sinais de descoberta da sexualidade na infância. Em que idade isso começa a ocorrer?
Noísa Rangel – A sexualidade faz parte da vida. Por volta dos 3 anos de idade as crianças já começam a ter curiosidade pelos seus órgãos genitais, a tocá-los e perceber que dá algum prazer. Em seguida, também descobrem as diferenças entre menino e menina. As crianças podem ter curiosidade sobre o próprio corpo e de outros, onde começam a explorar a sexualidade. Algumas crianças descobrem o toque seguido da masturbação, o que está dentro da normalidade. O comportamento de curiosidade e autodescoberta infantil é espontâneo, e surgem perguntas consideradas constrangedoras para os pais. A sexualidade infantil é considerada normal e saudável, a não ser que tenham sido abusadas sexualmente. A criança que sofreu abuso mostra um comportamento diferenciado. A fase da puberdade é um período de mudanças biológicas, fisiológicas e psicológicas, onde o corpo começa a mudar, e a atenção se volta para o corpo, muitas dúvidas e curiosidades começam a aparecer. E, na adolescência, acontece uma exacerbação da libido e a busca por parceiros sexuais.

Mania de Saúde – E como lidar com esses sinais?
Noísa Rangel – É sempre válido responder aos questionamentos da criança/adolescente de forma direta, sem rodeios ou mentirinhas. A resposta deve ser dada de acordo com a idade e maturidade. Quando a pergunta for simples, a resposta não deve ser uma explicação sobre anatomia e detalhes da relação sexual e sim de maneira objetiva. À medida que vão crescendo, as respostas devem ser mais completas. A pré-adolescência é o momento de explicar assuntos como menstruação, polução noturna, hábitos de higiene, relacionamento sexual. Os pais devem ficar atentos aos sinais da criança/adolescente e identificar se o comportamento é próprio da idade ou não. Se houver algum comportamento disfuncional, recomenda-se procurar um médico e um psicólogo. A masturbação infantil é considerada normal. Os pais devem ensinar o que é público e o que é privado e que existe hora e lugar para a exploração e desviar o foco para outras atividades.

Mania de Saúde – Você avalia que a internet de alguma forma precipitou esse processo?
Noísa Rangel – Com certeza, a internet pode gerar mais confusões, devido ao excesso de informações que os pré-adolescentes não sabem administrar. O excesso de exposição nas redes sociais, por meio de fotos, vídeos e textos, pode gerar constrangimentos, autocobranças e baixa autoestima. Além disso, no mundo digital existe uma pressão para o desenvolvimento de relações sexuais, o que pode acelerar os processos, pois agora tem uma plateia acompanhando toda a interação. É importante que os pais estejam atentos a seus filhos e o mundo on-line para identificar riscos e fazer as devidas intervenções. Deve haver uma comunicação intergeracional para que os adultos ofereçam uma voz ética e continente. Se não houver uma boa comunicação, o senso de segurança é transferido aos sites que oferecem sigilo das informações.

Mania de Saúde – Como a psicologia pode ajudar a criança/adolescente e aos pais neste momento?
Noísa Rangel – É importante saber um pouco de psicologia para entender as fases de desenvolvimento humano, para compreender o que é esperado para cada faixa etária. Sigmund Freud desenvolveu a teoria das fases do desenvolvimento psicossexual e dividiu as fases em: oral, anal, fálica e genital. Ele defendeu que a sexualidade se inicia na infância e só se extingue na morte. A psicoterapia pode ajudar no esclarecimento e orientação aos pais. Pode ajudar a criança/adolescente no processo de desenvolvimento, no autoconhecimento, acolhimento e expressão das emoções. A educação sexual é fundamental tanto nas famílias quanto nas escolas, pois é fundamental que se obtenha informações de confiança para o processo da sexualidade.