(*) Sthevo Damaceno é jornalista e
editor do jornal Mania de Saúde.
sthevodamaceno@maniadesaude.com.br

Sthevo Damaceno

Nem tudo é o que parece

(*) Sthevo Damaceno é jornalista e
editor do jornal Mania de Saúde.
sthevodamaceno@maniadesaude.com.br

Sthevo Damaceno
Confusões semânticas ocorrem em diversas áreas, mas o jornalismo parece, de fato, liderar o ranking de profissões que acabam sofrendo com o seu próprio vocabulário. Por exemplo: dias atrás, um leitor com quem eu conversava estranhou quando me apresentei como repórter, depois dele pedir informações sobre uma determinada matéria. “Mas você não é só jornalista? Qual a diferença?”, questionou. Confesso que, na hora, até eu mesmo me embananei, tentando entender que conceitos aquele interlocutor possuía sobre a minha profissão. Decidi não complicar o assunto com diferenciações teóricas, até mesmo pelo tempo exíguo: respondi apenas que, a rigor, ambos precisam transmitir um fato ou um tema a um determinado público e, por isso, bebem da mesma fonte. Que ele não se preocupasse: estava tudo em casa. Acho que nosso amigo, mesmo curioso, deu-se por satisfeito. Mas não é preciso ser leigo para estranhar tantas terminologias. Até quem conviveu bastante com elas às vezes se enganava. Lembro-me, por exemplo, do escritor Herberto Sales, quando recepcionou o nosso grande José Cândido de Carvalho na Academia Brasileira de Letras (ABL). Amigos de longa data, Herberto saudou o ingresso de José Cândido na ABL lembrando-se das “crônicas” de “O coronel e o lobisomem”, obra máxima do autor campista. Foi o mesmo termo utilizado, aliás, por Jânio de Freitas, um dos maiores jornalistas do país, que, quando entrevistado pelo Mania de Saúde, lembrou-se da amizade com José Cândido e das “crônicas” de “O coronel e o lobisomem”. Ambas as falas, porém, dão a entender que José Cândido reunira crônicas de jornal para compor o romance, quando, na verdade, tratavam-se de histórias, no máximo contos, bem ao gosto do aclamado escritor. Depois é que fui saber a origem da controvérsia: muitas das histórias de José Cândido apareciam sob o rótulo convencional de “crônica” em revistas cariocas, gerando assim o equívoco. Mas faz parte. No próprio cotidiano de jornal, as fronteiras entre os gêneros praticamente desaparecem. A começar pela distinção entre matéria e artigo, que, hoje em dia, quase inexiste, pelo número de pessoas que acreditam ser basicamente a mesma coisa (mas não são). O mesmo vale para as nomenclaturas. Vide a de editor, profissional designado pela direção/empresa para organizar o conteúdo jornalístico dos repórteres e editar o material coligido ao longo desse processo. Sua função se restringe a executar a linha editorial comandada pelo editor-chefe ou pela direção, conforme a estrutura da empresa. No caso do Mania de Saúde, por exemplo, nossa diretora e editora-chefe, Andréa Muniz, é quem comanda nossa linha editorial, à qual, como mero editor, devo ir organizando na medida em que vamos produzindo as matérias, feitas pela nossa equipe. Assim como os artigos, textos de opinião redigidos por profissionais convidados pelo jornal. Há muitas outras nomenclaturas existentes, dependendo do veículo, mas nem sempre bastam para o interlocutor distinguir o que é reportagem e o que é opinião ou mesmo o que faz um jornalista ou um repórter. Já na internet, o problema se agrava, devido a alguns criadores de conteúdo que, muitas vezes, sem ter a menor formação na área, começam a disparar nomenclaturas jornalísticas a torto e a direito, abrindo margem para mais equívocos em um terreno já tão abundante deles. Mas o fato é que, independente das distinções feitas aqui e acolá, vez ou outra me deparo com alguém estranhando quando me refiro ao Mania de Saúde como um mensário… Sim, acontece. Mas aí não há dúvidas. No mês seguinte eu respondo!