Se você acha que o jiu-jitsu é uma luta praticada por pessoas que têm um pitbull de estimação e que adoram arrumar briga na rua, sinto lhe informar, mas você está errado. A tradução imediata do termo jiu-jitsu, por exemplo, seria “caminho suave”. Isso se deve aos seus princípios básicos, uma vez que essa prática privilegia o equilíbrio e o sistema de alavancas do corpo humano em detrimento do uso da força e das armas. Ou seja, uma luta que prioriza a consciência corporal ao invés da força, não pode ser associada às arruaças de rua.
Não por acaso, esse rótulo de que o jiu-jitsu é um esporte violento já está começando a cair por terra. Nossa reportagem conversou com o campeão Vinicius Gimenes, que coleciona medalhas na categoria. Ele conta como começou a sua história no esporte. “Sempre gostei muito de praticar esportes, mas, com o jiu-jitsu, comecei em 1997, quando meu irmão me levou para treinar aqui em Campos mesmo. Na época eu tinha 12 anos e não gostava muito, mas, com o tempo, fui me apaixonando e estou aqui até hoje. Minha primeira competição foi em 1997, ainda de faixa branca. Apanhei, mas não desisti, mantive o foco. Em 2011 tive uma lesão séria, que me deixou tetraplégico, precisei fazer uma cirurgia na cervical e voltei a lutar um ano depois. Achei que não seria possível, mas consegui e luto até hoje”, revelou.
Vinicius fala, também, sobre como o esporte transformou a sua vida. “Para ser sincero, mudou tudo. Eu não tinha muita perspectiva de futuro, porque, embora minha família seja de classe média, eu não gostava muito de estudar nada em específico. Claro que não é exemplo. Mas eu me encontrei no jiu-jitsu. O esporte me levou a lugares que eu nunca imaginaria”, afirma o lutador, que hoje mora no Kansas, nos Estados Unidos.
Ele dá uma dica para quem está começando no esporte. “O principal é a constância. Em tudo, até quando você começa uma dieta para perder peso ou para ganhar peso, muitas vezes você desanima. Mas se você traçar uma linha, uma meta, você vai chegar. A rotina é puxada, acordar cedo, treinar mesmo quando se está cansado. Depois isso vira um hábito que te traz até qualidade de vida. Você se acostuma. Por exemplo, eu não como açúcar, então, se eu tomar um gole de café com açúcar, eu acho ruim. Se eu como uma fruta, sinto o sabor dela bem doce. Essa disciplina, essa constância, você leva para todos os aspectos da sua vida”.
Vinicius comenta também sobre como ele vê o seu esporte no Brasil. “Acredito que o jiu-jitsu seja o que mais cresceu. Há cerca de cinco anos era impossível viver desse esporte e hoje existem vários atletas que sobrevivem do jiu-jitsu e, mais do que isso, vivem bem, viajam o mundo inteiro. Acho que poderia ter mais incentivo nas escolas, dentro da educação física poderia ser incluído o jiu-jitsu. Porque é um esporte que tem uma peculiaridade que é a resenha, os amigos que se formam, acaba virando uma família mesmo. Existe um aluno meu que tem um projeto incrível, chamado Projeto Caneca, voltado para crianças de baixa renda. A minha filha mesmo treina nesse projeto. E, para quem acha que o jiu-jitsu é violento, eu digo que é exatamente o oposto. Se for analisar, você se machuca mais jogando futebol do que lutando. Esse rótulo surgiu lá atrás, mas acho que está mudando. E, insisto, é um esporte que me trouxe muita disciplina, constância e amizades”, ressalta o lutador, abordando os planos para 2022. “Em janeiro devo voltar para os Estados Unidos, voltar a dar aulas na academia em que eu trabalho, que tem uma estrutura muito boa e focar nas competições internacionais, já que as principais competições acontecem lá”.