Tudo que você precisa saber
A anemia falciforme é uma doença hereditária e é caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue. No caso de quem não tem a doença, as hemácias são redondas, como discos. Na anemia falciforme, ela se assemelha a uma foice, daí o nome. Essa célula tem essa membrana alterada, se rompe com muita facilidade e causa um quadro de anemia.
É o que nos conta a médica pediatra Dra. Cláudia Soares. “É importante que seja realizado o teste do pezinho, porque nele, dentre outras patologias também existe a pesquisa da anemia falciforme. Então, nós vamos descobrir se esse bebê tem a doença ou é portador do traço falcêmico, que não chega a ser a doença, ele tem parte do gene normal para hemoglobina e parte um gene falcêmico. Por isso, a nossa orientação é de que os pais não deixem de fazer o teste do pezinho, porque além da anemia falciforme, ele vai detectar outras possíveis doenças, permitindo que o médico aja de forma preventiva. Se por acaso o teste do pezinho não for realizado e for preciso diagnosticar se aquela criança ou adolescente tem a anemia falciforme ou o traço falcêmico, a gente usa de um exame de sangue chamado eletroforese de hemoglobina”, afirma a médica.
Dra. Cláudia Soares fala, também, sobre os sintomas da doença na criança. “Além dos sintomas da anemia tradicional, a partir do sexto mês, outras coisas podem começar a acontecer, como crises de dores ósseas intensas, edemas com pés e mãos inchados. Isso chama muita atenção. Além do próprio quadro de anemia, podem ocorrer quadros de icterícias e infecções recorrentes. É importante ressaltar que a anemia falciforme e o traço falcêmico são mais comuns em pessoas negras e seus descendentes. Ocorreu uma mutação genética no continente americano em uma determinada época, que causou uma alteração da estrutura da hemoglobina, dando origem a essa doença. Quando se fala em anemia falciforme e traço falcêmico, são coisas bem diferentes. No primeiro caso é uma doença estabelecida, essa pessoa tem uma alteração de hemoglobina, geralmente passada pelo pai e pela mãe. O traço falcêmico não vai alterar a vida do indivíduo, apesar de ser necessário ter um acompanhamento, porque ele é portador dessa hemoglobina S, mas ele não tem a doença. No entanto, se essa pessoa ‘AS’ se casa com outra ‘AS’, pode vir a gerar uma criança ‘SS’, que já é a anemia falciforme. Daí a importância da orientação genética”.
O tratamento depende da situação, de acordo com a pediatra. “Se a crise for de dor, essa criança tem que ser hospitalizada e seguir todo o protocolo de tratamento, com medicamentos que vão na direção de hidratação e controle da dor. A orientação familiar é muito importante, com relação a possíveis complicações. A anemia falciforme pode gerar a esplenomegalia, que é a alteração do baço, além de modificação na pele, úlceras de pele, a síndrome mão-pé (com dores articulares), osteomielite, necrose séptica da cabeça do fêmur, alteração nos olhos, acidentes isquêmicos, hemorragia cerebral, insuficiência cardíaca, pneumonia, infarto pulmonar. Não é uma doença simples e pode causar muito transtorno se não for acompanhada desde o início. A gente chama atenção para a importância da vacinação contra os pneumococos, e para as mulheres grávidas, que vão precisar de cuidados bem especiais. Mas sendo diagnosticada precocemente e acompanhada pelo médico, essa pessoa pode ter uma vida normal”.
Dra. Cláudia lembra, ainda, que é mito que toda anemia falciforme vira leucemia. “Isso não é bem assim. É muito comum, no nível ambulatorial, as pessoas terem esse medo. Geralmente a leucemia leva a uma anemia e não o contrário. É importante que o paciente fique atento e não deixe de acompanhar a anemia, porque, como vimos anteriormente, ela pode ter complicações sérias”.