Já faz mais de um ano que a pandemia do novo coronavírus transformou o contexto de saúde em todo o mundo. Até hoje, médicos e cientistas vivem enormes desafios para tratar os pacientes e combater a doença. Mas, apesar de toda a gravidade da Covid-19, existem outros problemas que afetam a qualidade de vida da população em meio à pandemia, tornando ainda mais complexo o atendimento médico nos dias de hoje.
Para abordar o assunto, o Mania de Saúde ouviu o médico neurologista e neurocirurgião Dr. Ramon Romano, que falou sobre as repercussões da Covid-19 na atualidade. “O que a gente tem visto bastante é o aumento de casos de cefaleia pós-Covid-19, bem como quadros de ansiedade, de depressão, principalmente pelo isolamento social e pela perda de familiares. Há um aumento considerável de pacientes com essas queixas. O mesmo acontece em relação às dores, principalmente os pacientes que têm dores crônicas, pois acabam apresentando um agravamento desse quadro. Sem dizer que muitos não estão conseguindo fazer uma reabilitação, uma fisioterapia, devido ao próprio contexto da pandemia, o que é outro problema”, afirma Dr. Ramon, lembrando como a pandemia interferiu na rotina de pessoas que vinham fazendo algum tipo de tratamento de forma regular. “Muitos pacientes que necessitam de cirurgia, por exemplo, falando-se da área neurocirúrgica, às vezes não têm a indicação de uma cirurgia de emergência e, por isso, estão aguardando na fila, tendo que esperar a liberação dos hospitais e um controle maior da doença, ficando assim sem o tratamento adequado. Muitos deles ficam em casa, não conseguindo comparecer às consultas médicas, o que tem dificultado e agravado as doenças desses pacientes”, acrescentou o médico.
Ele conta que esse comportamento, muitas vezes, acaba gerando um outro problema: a automedicação. “Isso é importante ressaltar, pois a gente vê que o paciente continua usando a mesma medicação, durante um tempo prolongado, sem o devido acompanhamento médico”, revela Dr. Ramon. “Temos percebido também, isso relacionado tanto à Covid-19 quanto a essa questão da automedicação, muitos casos de AVC, pois às vezes o paciente já tem um problema de base, como hipertensão ou diabetes, mas não está conseguindo fazer o acompanhamento da forma adequada, usa a medicação como já vinha fazendo, às vezes a pressão está descontrolada, tem a Covid-19, que já aumenta o risco de ter um AVC e tudo isso acaba complicando ainda mais a situação do paciente. Mas é importante ressaltar que toda medicação tem a orientação médica adequada”, frisou.
Diante de tantos desafios, Dr. Ramon dá algumas dicas de como os pacientes devem se comportar nesse momento. “O primeiro passo, claro, é manter as medidas de prevenção para evitar a infecção pelo coronavírus. Pacientes mais idosos, sobretudo, devem tentar entrar em contato com seus médicos por telefone e fazer uma consulta através da telemedicina, pois está autorizado pelo CFM fazer esse tipo de atendimento, principalmente para pacientes que já fazem um tratamento de forma prolongada. Também é aconselhável tentar manter o máximo possível a sua rotina, pois, mesmo em tempos de isolamento social, é importante que as pessoas façam suas atividades normalmente. Isso é bom para o corpo e para a mente e contribui para uma melhor qualidade de vida”.
O médico, por fim, faz um alerta importante quanto aos sintomas neurológicos pós-Covid-19, que são comuns, mas, às vezes, acabam subvalorizados. “Pacientes que têm uma cefaleia pós-Covid-19, ou dores musculares, mantendo esses sintomas depois da doença, devem procurar o médico, porque às vezes é necessário um acompanhamento pós-infecção para o tratamento de algumas sequelas que a doença pode deixar. Não só as sequelas pulmonares, mas as sequelas neurológicas são extremamente comuns e estão aí entre o segundo e terceiro lugar das complicações do novo coronavírus. É muito importante procurar um médico, principalmente o neurologista, caso você tenha sintomas neurológicos pós-infecção”, orienta Dr. Ramon. “A perda do olfato e do paladar, por exemplo, são quadros muito comuns e são sintomas neurológicos, que podem dar sequelas permanentes. Então, se persistir com esses sintomas, mesmo depois da fase aguda da doença, procure o especialista, porque às vezes é necessário uma melhor investigação e um tratamento mais específico desses sintomas”.