Saiba o que é MITO e o que é VERDADE sobre Diabetes

Dr. Cláudio Cola
Diferente do que muitos pensam, por definição, a diabetes mellitus não é uma doença, e sim o nome utilizado para identificar um grupo de doenças, caracterizado por níveis elevados de açúcar no sangue causado pela incapacidade da entrada desta na célula. Quem nos dá essa informação é o médico e professor Dr. Cláudio Cola, que, em uma série de reportagens, nos ajudará a entender melhor sobre a doença. “Normalmente, esse controle da glicemia funciona da seguinte forma: as células beta do pâncreas tem um ‘sensor’ que as ‘percebe’ quando há muita glicose no sangue e isso faz com que elas liberem o hormônio Insulina. Então, uma molécula desse hormônio se liga à membrana das nossas células, abre canais específicos, por onde cerca de 5 moléculas de açúcar entram e vão servir de combustível celular. Com isso, o nível de açúcar no sangue cai, e ‘avisa’ às células beta do pâncreas que elas já podem parar a liberação de insulina, que só vai ocorrer novamente, quando o nível de açúcar voltar a subir. Existem diferentes causas que podem desregular esse processo de produção, frequência de liberação e eficácia da insulina, determinando então diferentes tipos de diabetes, sendo os mais comuns e conhecidos o Diabetes tipo 1, o Diabetes tipo 2 e o Diabetes gestacional”. Dr. Cláudio explica as diferenças entre os tipos de diabetes. “O tipo 1 é uma doença autoimune, ou seja, o nosso sistema imunológico tem uma programação genética defeituosa e, com isso, geralmente depois de um quadro chamado de ‘gatilho’, que pode ser uma virose, intoxicação alimentar, falta de vitamina D ou excesso de glúten ou lactose, disparam a produção de anticorpos contra as células beta do pâncreas que produzem a insulina. Desta forma, o pâncreas é ‘atacado’ e a produção deste hormônio decai progressivamente até que seja praticamente zerada, passando a ser essencial o uso da insulina injetável, e isso explica por que este tipo surge em indivíduos muito jovens e em algumas pessoas da mesma família. O diabetes tipo 2 é o mais comum e mais complexo, se caracterizando, inicialmente, pela ineficácia e depois pela redução na produção de insulina, ou seja, secundária a instalação de complexas distorções metabólicas, primeiro ocorre a ineficiência da insulina e isso gera a falência na sua produção, situações essas hoje conhecidas como Resistência à Insulina (RI) e Síndrome Metabólica (SM). Para compreender rapidamente a RI imagine três situações que farão a insulina ‘perder seu efeito’ de colocar o açúcar na célula: uma programação genética para que, com o tempo, fique mais difícil abrir esses canais para o açúcar entrar, e você precise não de uma, mas de duas ou três moléculas de insulina para fazer as cinco de açúcar entrarem; ou que, desenvolvendo a obesidade, o seu número de células gordurosas aumentou muito e muito rápido e que por isso essa gordura está ‘inflamada e cheia de citocinas inflamatórias’, fazendo com que as células sejam menos sensíveis à ação da insulina e também vão precisar de mais moléculas para controlar o açúcar e, por fim, o uso de uma dieta baseada em alimentos industrializados e ‘fast food’, que aumentam muito rápido o nível de açúcar no sangue e promovem uma liberação rápida de insulina, mas que são rapidamente metabolizados, fazem a glicemia cair rapidamente enquanto a insulina se mantém elevada, e isso também diminui a sensibilidade das células. E, para entender a SM, é só saber que essa síndrome foi descrita na década de 80 por Reaven, como um conjunto de doenças cuja base é a resistência insulínica que você já entendeu acima e que aumenta em muito os riscos de doenças cardiovasculares, atinge atualmente 25% da população mundial e é diagnosticada pela presença de três dos cinco critérios: obesidade central – circunferência da cintura superior a 88 cm na mulher e 102 cm no homem; Hipertensão Arterial – pressão arterial sistólica em 130 e/ou pressão arterial diastólica em 85 mmHg, ou mais; Glicemia alterada (glicemia acima de 110 mg/dl) ou diagnóstico de Diabetes; Triglicerídeos acima de 150 mg/dl; HDL colesterol acima de 40 mg/dl em homens e 50 mg/dl em mulheres. Por fim, o terceiro tipo, conhecido como diabetes gestacional, é aquele que ocorre exclusivamente durante a gestação e que é relacionado à resistência à insulina manifestada em algumas mães, por questões genéticas, durante esse período”. Nas próximas edições, vamos falar sobre o tratamento da doença e como conviver com ela.