O médico psiquiatra Dr. Leonardo Bacelar, Diretor da Clínica Proteus, que é especializada em medicina ocupacional e engenharia de segurança do trabalho
Problemas como a ansiedade e a depressão estão cada vez mais presentes na vida das pessoas. Mas, nos últimos tempos, eles parecem ter se acentuado com a chegada da pandemia do novo coronavírus. Prova disso é o crescimento do número de concessões de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez devido a transtornos mentais e comportamentais, que bateu recorde em 2020, somando 576,6 mil afastamentos, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Isso representa uma alta de 26% em relação ao registrado em 2019, conforme reportagem do jornal Extra, demonstrando o quanto a saúde mental está na ordem do dia e pode interferir diretamente na relação do indivíduo com o trabalho.
Para abordar o tema, o Mania de Saúde conversou com o médico psiquiatra Dr. Leonardo Bacelar, Diretor da Clínica Proteus, que é especializada em medicina ocupacional e engenharia de segurança do trabalho. Ele destaca, primeiramente, como o funcionário deve agir em relação a problemas como a ansiedade, por exemplo, que é um dos quadros mais comuns no mundo contemporâneo. “O cenário ideal é que o trabalhador comunique a empresa e procure atendimento, ou do psicólogo, dependendo do grau dessa ansiedade, ou do médico, para poder medicá-lo se for o caso e encaminhá-lo para uma terapia. É importante que o colaborador fale sobre o que está acontecendo, seja para sua chefia imediata, seja para o dono da empresa, para ele entender que o funcionário está passando por um processo mais difícil e que, naquele momento, talvez precise de algum tipo de ajuda. Isso é importante, por exemplo, para evitar que o problema cresça a ponto de resultar em um afastamento do trabalho”, diz o diretor. “Inclusive, aqui, na Proteus, a gente trabalha com algumas empresas fazendo o controle desse absenteísmo. Se o colaborador está faltando demais, se está dando muito atestado, por qualquer tipo de doença, por exemplo, a gente procura fazer uma busca ativa desse indivíduo, para saber o que está acontecendo. Dessa maneira, você tem como ajudá-lo. Se é um problema de saúde mental como um todo, a gente indica os tratamentos, auxilia o colaborador e busca uma integração da empresa para organizar isso de uma forma que seja boa para os dois lados. Mas é um processo difícil porque, geralmente, o funcionário tem vergonha ou sente medo em falar que está indo ao psiquiatra ou ao psicólogo. Existe uma psicofobia em relação a isso. Mas o colaborador não tem que pensar em doença mental. Ele tem que pensar em ter uma boa saúde mental para evitar maiores problemas”.
Dr. Leonardo conta que, em relação à parte laboral, muitas empresas já se preocupam com o lado emocional do seu quadro de funcionários e, além disso, a própria mudança das normas regulamentadoras que estão ocorrendo tem deixado mais explícita a necessidade de se preocupar com os riscos relacionados à saúde mental dos trabalhadores. Mesmo assim, é necessária uma psicoeducação tanto do empresário, das chefias e dos líderes, quanto dos funcionários. “Não basta o dono da empresa reconhecer a importância desse cuidado. Dentro de uma empresa repleta de subdivisões, com chefias e líderes, por exemplo, não adianta o dono se preocupar com a saúde mental dos trabalhadores e não transmitir isso para aqueles que estão na hierarquia. Às vezes um gerente não está inteirado dessa busca ativa e o funcionário não vai saber que pode ter ajuda. É importante que haja um planejamento nesse sentido”, afirma Dr. Leonardo. “O ideal é que a empresa tome essa atitude, crie mecanismos e protocolos, mas de forma individualizada. Até porque cada empresa tem um perfil, cada grupo de funcionários tem suas peculiaridades, então, o importante é que se faça uma coisa bem planejada e individual. É óbvio que a gente tem um arcabouço que funciona muito parecido para todo mundo, mas, dentro dele, você vai ter as nuances e as variantes que vão acontecer e tem que prestar atenção nelas. Para saúde mental isso é muito importante”.
O diálogo, portanto, é sempre o melhor caminho, como frisa o diretor. “O funcionário dialogar sobre o que está acontecendo é fundamental. Ele deve buscar ajuda. Não pode esperar chegar num limite onde não consiga mais trabalhar, por exemplo. O conselho é não ficar guardando aquilo para ele mesmo, porque, uma hora, isso acaba gerando um problema maior. Já a empresa deve monitorar isso de alguma forma, através do índice de absenteísmo, através da busca direta dessas pessoas que estão com algum distúrbio relacionado à saúde mental, passar isso para toda a hierarquia de acordo com o tamanho da empresa, tentar observar o que está acontecendo e oferecer algum tipo de ajuda”.