Toda gestante sabe o quanto é importante cuidar da própria saúde ao longo de todo o processo gestacional. Afinal, durante esse período, ela deve tomar uma série de precauções para garantir uma gravidez saudável e, assim, preservar a saúde do bebê. Mas existe um cuidado que não pode passar despercebido por nenhuma delas no decorrer desse processo: a preocupação com a saúde bucal.
Isso porque a superfície mucosa é colonizada (habitada) por incontáveis microrganismos que representam o microbioma intestinal. A maior parte é benéfica para o organismo e nos ajuda com várias funções, inclusive proteger contra o crescimento de invasores (bactérias vilãs). Estão aí os probióticos e prebióticos para nos armar contra os inimigos. No entanto, em algumas situações, pode ocorrer o desequilíbrio do microbioma das mucosas e as bactérias vilãs conseguem se multiplicar e romper a homeostasia (equilíbrio) da comunidade microbiana, invadindo a barreira de defesa e causando as doenças bucais, como a cárie dentária e as doenças periodontais, que precisam receber toda a atenção da gestante, como afirma, ao Mania de Saúde, a cirurgiã dentista Dra. Luciana Barbosa, Periodontista e Mestre em Imunologia.
“As doenças periodontais são patologias disbióticas (desequilíbrio bacteriano) que acometem os tecidos que dão suporte e proteção aos dentes: osso alveolar, cemento, ligamento periodontal e gengiva. A gengivite é a inflamação das gengivas causando sangramento, halitose, porém sem perda óssea. Os tecidos periodontais podem sofrer com a inflamação sem tratamento e desenvolver danos mais profundos e perda óssea, evoluindo da gengivite (mais superficial) para a periodontite. Cuidado: a inflamação descontrolada está associada a desfechos sistêmicos negativos, tais como: maiores níveis de mediadores inflamatórios e proteína C reativa, doenças cardiovasculares, descontrole glicêmico na diabetes, pré-eclâmpsia, prematuridade e baixo peso ao nascimento”, afirma a dentista. “A manifestação clínica das doenças periodontais podem ser mais graves em pacientes com doenças autoimunes, estresse, carências nutricionais (carência de vitamina D, B12, Fe, ácido fólico) hábitos deletérios (cigarro, álcool, má higiene) ou doenças sistêmicas (alterações hormonais, osteoporose, artrite reumatoide, diabetes, hipotireoidite, alterações salivares e Sjogren)”.
Segundo Dra. Luciana, as mulheres têm particularidades quanto aos hormônios e os ciclos de vida refletindo na saúde bucal, principalmente na manifestação das doenças periodontais, desde a puberdade. “Alterações na concentração de estrogênio e progesterona acompanham a mulher ao longo de sua vida. Em alguns casos, a inflamação pode ser percebida em períodos de ciclo menstrual e até mesmo com reações a certos anticoncepcionais, acentuando a vermelhidão ou sangramento. Porém, são as periodontites que podem ter sérias consequências nas mulheres, principalmente no ciclo gravídico e na menopausa. Os hormônios femininos são como meios de cultura ‘alimento’ para as bactérias, aumentando a quantidade e patogenicidade do microbioma. Durante o período gestacional a gengivite é muito prevalente. O granuloma gravídico é uma massa aumentada na gengiva e espaço entre os dentes e acomete até 10% das mulheres durante a gravidez. Contudo, a periodontite agressiva é a infecção mais preocupante, porque a disseminação sistêmica dos microrganismos, suas toxinas e alguns mecanismos de defesa (mediadores inflamatórios) estão associados à prematuridade e baixo peso do bebê ao nascimento”.
Dra. Luciana explica que, durante a menopausa, as flutuações hormonais podem levar ao comprometimento vascular e modificar o curso das doenças periodontais. “A osteopenia e osteoporose relacionadas podem levar à maior perda de inserção dos dentes. A obesidade e sobrepeso, também pertinentes a esse período de vida da mulher, representam o dobro de risco de ter periodontite”, alerta a dentista. “Mas então as mulheres têm mais doenças periodontais? Nem sempre… Apesar desses fatores aumentarem a suscetibilidade das mulheres à inflamação periodontal, nós estamos na vantagem quanto à adesão a condutas de prevenção e consultas de manutenção odontológica e médica (check-ups). As consultas odontológicas de prevenção mantêm a estética, saúde e qualidade de vida. Levando em conta as particularidades femininas, é interessante procurar um periodontista e adotar estratégias de tratamento e prevenção atualizadas, individualizadas e diferenciadas”.